quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

sem título

vem voar
vem amar
rememorar

o agora em si

onde estás

eu

terça-feira, 30 de novembro de 2010

mil perdão

partiu
coração
balão
de são joão
faz frio
redenção
uiva o cão
por pouco não
quebra a rima
mil perdão
espero que chova
para que eu não
chore
porque eu te amo te amo te amo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

acerca de barroco e de verão

o cheiro do verão na noite da mata
dói
mata designada como selva
dói também
algumas palavras na língua hispânica
doem mais
do que o barroco do português.
embora o barroco doa também
pelo caratér errático da forma;
parece drama:
mas o verão no vagão da noite
tem cheiro de grama molhada
e cigarras perdidas no som.

domingo, 21 de novembro de 2010

codinome

Pier
se foi
Pier
substantivo próprio
Pier
substantivo meu
Pier
sobre o pier eu
te espero lançado ao nada
escrevo através dos olhos
é tarde é bem tarde.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

pedra de chuva

sinto quando vai chover
eu sei
sinto quando chove
é quando os olhos precisam
quando: aqui agora
cai a chuva
poupa-me lágrimas
deserto
estava tudo desértico
até que se engendrara
água desabara
em vida
caindo
da pedra do ar
à petala da terra
árida
minha
e do mundo inteiro.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

amuleto

não quis morrer
orei por desaparecer
orei para o céu lilás
orei no cais solidão
não sem o teu amor
no peito apenas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

pier

eu tenho um coração de puta de porto
sozinho
desesperançado
que jamais amou
que espera no asfalto
de um pier abandonado
entre os postes de luz
entre as sombras dos conteiners
quando as gaivotas dormem
na noite aberta
frente ao mar bravio
ao vento da maresia
frente aos barcos no cais
com seus faróis
quais não abrem caminho nenhum.

no verbo só

cheiro de grama molhada
terreno baldio lindo
contra céu lindo
porque escrever
lindo resumiria
você e a natureza
inteirinha
minhas palavras
em nada mudariam
romântico que é
o texto
sob a natureza soberana
pelo tal sou romântico
não que ame
embora ame
complicado
indizivel
então porque escrever
só para não sofrer
e amar e morrer
no verbo sozinho.

por tão simples

o peso das vossas ondas
à sombra das vossas asas
versos bíblicos
salmos
resquícios
cristãos
pelo tal tristes
quero poemas de sonho
não mais realismo
de realismo basta a realidade
e ao minimalismo
meus olhos sorvem o que
jamais poderia ser dito
por tão simples.

sorver

a noite cai
eu tateio paz
na escuridão
escuridão
não das lâmpadas
incandescentes
sim da solidão
a qual serve
do medo
o qual sorve
do possível
julgamento.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

à ninguém

se a lua estiver em leão,
é pra você.
você é meu irmão,
é o sol,
e também a estrela.
a lua amarela de agosto,
mês difícil,
mês seu,
é por você.
noite de saudade
noite de saudade tanta
que eu não deveria
escrever.
texto difícil a mim,
à ninguém.

lugar inominável

estás em outra cidade
eu estou em outro lugar
que não sei onde.
não tem privacidade
neste lugar que não tem nome.
não estou sendo o cavaleiro
da poesia,
no sentido espírita.
céu, casas germânicas,
jardins podres,
fotografia factual,
cães ladram,
uma criança chora.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

palma sob rosa

perdão pela falta de métrica
do último poema.
digo, do último texto.
hoje veio um poema inteiro
nos olhos
no céu
numa palma
farfalhando
sob rosa caindo
em nuvens,
bois e fumaça
na estepe.
eu jamais conseguiria
transcrever
o texto do ar
para a página,
embora eu devesse apenas
agradecer por estar vivo
e ter fotografado
em centenas
de pixels
de retina
e de luz
a palma
sob rosa cálido
sobre cálido
coração.
por estar vivo
agradecer.
além de bois,
fumaças,
crianças do campo,
coisa bucólica,
melodia
de quando éramos felizes
ouço agorinha mesmo.

neste texto há certa desesperança.
perdoem a ausência de métrica.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

lembrar

nunca se lembre de mim,
porque eu mesmo esquecerei.
os calmantes me farão esquecer
tanto de você, como de tudo.
as cordas gastas
nos acordes batidos
quando arrebentam
também se esqueceram.
que se esqueçam todos de mim
porque eu mesmo já não me lembro.
os cachorros ladram agora:
lembram-se do que sequer esqueceram.
para este texto não há fim
nunca se lembre de mim.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

bem-te-vi

eu desejo ser livre
da liberdade do bem-te-vi
pousado alí:
no centro do universo do telhado.
eu acordo na melodia repetida
do canto do bem-te-vi
e volto a dormir.
bem-te-vi
bem-te-vi
não lhe vejo há um ano.
saudade do que se perde.
do que nem se perde também.
ser livre designa
sem saudades e sem perdas.
apenas asas nos olhos,
coração selvagem,
imensidão
de mar
e arder em vida.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

o não dito

eu não quero morrer nunca.
digo, de morte física.
embora todos haveremos de morrer um dia.
a chuva lava a tudo.
barulhos me assustam.
eu estou descontínuo.
deslinear.
atemporal.
feliz e triste.
nada.
porque escrever?
designado que me salva
a palavra no sentido redentor,
escrevo.
insisto na palavra dita pra ninguém,
designada pelo coração.
embora a coisa
de central importância
jamais seja dita.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

crônica

treze graus na cidade de são paulo.
cinco e quarenta e oito da manhã.
aquecedor barulhento.
afoguei o relógio.
coca-cola.
disco da Elis.
óculos entre os olhos e o mundo.
mundo: tela de cristal líquido.
houve tempo em que cristal líquido
deveria ser algo místico.
cães ladram.

apesar de

idiossincrática dor
idiossincrática morte
"todos somos ilhas"
"é difícil perder-se"

óculos de grau ultrapassado.
é bom que nem se lê
o que se escreve mal,
e com certa pressa.
quase amanhece;
renascimento continental.
idiossincrático renascimento
em mim, na página.
saudade de nada.
talvez do morro da lagoa
e do dia que ainda nem nasceu.
pra ocultar a minha dor,
escreverei crônicas.
eu não estou em dor.
aquecedor, óculos, coca-cola
tira-me o sono.
tira-me o sono pés gelados,
narinas congestionadas,
por isto venho à página.
o pobre texto seria sobre
outra coisa;
clarice dizia que escrevia
como que sonhava,
que a coisa fluía
ultrapassando assim
a continuidade temática.
idiossincrática necessidade
de escrever por escrever.
salvar-me-ei de,
"apesar de".

domingo, 1 de agosto de 2010

idiossincrático

renascer no vôo do beija-flor idiossincrática dor se salva no céu no amor no ar na natureza em nada que é humano não há o que se escreva eu estou triste e perdido portanto não dá pra escrever.

domingo, 18 de julho de 2010

a palavra pétala

amar alguém virtualmente
é igualmente
a amar o invisível de uma rosa
da mesma maneira que se ama
a mesma
em pétala.
pétala
seu som
em palavra
no tema
ou nada
só mesmo
incorporar
pétala
à palavra
à palavra
pétala
aveludada.

sobre seixos

desse design
-entre aspas-
eu não gosto.
essas britas
não combinam com o design.
britas, leia-se pedrinhas,
seixos.
seixos não combinam
com o design,
dependendo.
porque o design
dependendo de tudo
fica vendável,
antes desejável,
mas isto não passa
de objetos
e problemas,
então qual é a finalidade
de escrever isto
e sobre isto
portanto.

gota sobre calha

gota sobre calha
quando eu for velho
eu escreverei só
sobre
gota sobre a calha
que eu vi
com meus olhos novos
na proximidade
da possibilidade
de que a retina
sempre será
precisa assim como o é
quando o brilho da gota
da calha é visual
brilhante
plástico
plástica
gota
aquosa
brilhante
no ar
cai
brilha
não há quem a salve no olhar
a não ser no coração
e além
(ou não)
na escrita.
quando eu for velho
eu escreverei
tudo,
indiretamente,
acerca do entendimento
tido ao ter a plástica da gota
ao cair na calha molhada
brilhosa, e verde
sobre a madrugada vazia.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

qualquer

rasgos de dourado no céu
rasgos da guitarra
posso escrever qualquer coisa:
esta melodia me faz chorar
esta lua
onde você está?
eu quero tudo
eu não saio do lugar
eu telefono
eu caio na chamada
não atendida
não ida
não feita
não angariada;
eu não posso escrever nada.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

chove

chove
na mata
na madrugada
na óca
do sonho
chove em meu peito desértico
chove e eu estou tão só
chove pássaro no ninho
chove eu estou sem carinho.
associações primárias
a partir de memória:
meu poema.
chove no céu
no ar
na terra
nas folhagens
e nos corações
a saudade
que a chuva aconchega.

chuva redentora

chove
na mata
na folhagem
na óca
do sonho
chove na madrugada
chove no céu
no ar
na terra
chove no deserto
do meu peito
chove chove chove
repetidamente
no verso
e crônicamente
na natureza
natureza esta
que não exclui
verso este,
mas que é mais
que ele;
é o pássaro no ninho
figurado carinho
eu estou muito sozinho.

de irrevogável importância

os filhos nos apressam
a ponto de que
não possamos
nem mesmo terminar
um poema fútil
mas de importância
irrevogável
no sentido redentor
judaico
da palavra enquanto
objeto sagrado
esta que só esta
pode ultrapassar
e nos salvar
se a pudéssemos
terminar
enquanto poema
se os filhos
e os afazeres
mundanos
não nos tirasse
tempo a tal ponto.

pretexto de bolhas

bolhas de sabão
tais quais poemas
a meus olhos
poemas furtacor
de fina película
algo de amor
e de fugidia noite,
o televisor
está ligado
para as moscas,
enquanto escrevo com demasiada pressa,
com demasiada angústia,
só que desta não se morre
a não ser pelo que se sofre
pelo que nem se sabe
além de a existência
sob pretexto
de bolhas de sabão
iridescentes e impunes.

domingo, 4 de julho de 2010

apenas lua

não sei se há lua.

se houver

não haveria

de que

haver poema

posto que

este

por mim

busque lua

apenas.

um cão a ladrar

cão ladra bem longe
cão ladra no ar
cão e solidão rimam
e a rima pode me salvar
você também me salva
em palavra
embora falte boca
a qual cala
o que cala
o que o cão ladra.
um cão ladra
um cão a ladrar
um cão é só um cão
ele nem existe
se não em som
e um cão em som
equivale
a música
sem frequência.

acerca de lágrima e chuva

morro desmatado geralmente chora se tem chuva.


geralmente a gente não chora justo quando há chuva.


chuva nos poupa lágrima.


isto é um verso roubado.

tanko

tanko de zoltan
de zoltan kodalit
é o meio termo
do nome
ao meio
qualquer
verso
esqueci
qualquer verso
que me salve
no aqui e agora
que em verso
se faz em lembrança
versos se fazem de lembrança
poemas também
ela dorme
um cão dorme
entre folhagens
quais não dormem
nunca.
quem saberia?
o cão do velho
dorme alí
dorme aqui
no coração
posto que o veja
o ponha
o cole em verso
mas o cachorro
e tanko
(pretexto de verso)
dormem no coração.
tanko amo-te
tanko não existe.

waits

waits
wait
wait me
wait for me waits
wait for me dear
wait me em sua mulher
dear waits
wait me
por mim.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

não ter asas

coração dói
de dor física
não das de dor romântica
neblina
lua já foi engolida
lá fora é mato
e concessionárias
de automóveis
embora eu quisesse
concessionárias
de sonho,
ou mesmo ter asas.

sim monroe

monroe era louca,
pelos olhos,
pela alma,
marilyn era louca no maior
e no maior do mais triste
dos sentidos:
o de uma pessoa vazia
nos olhos mas linda
de alma
de música para camaleões
não lembro
do transgressor
do escritor
que vos
pintou
marilyn monroe
em palavras
além do
que a fotografou
na flacidez
e no fascínio americano
de uma beleza impressa
para a de ser feita
para o às de páginas
midiáticas
porque estes versos assim se dividem
saudade
escrevo no texas
escrevo sobre marilyn
a partir
desta fotografia
maior do que mídia
qualquer lixo
que for
maior do que o meu amor
que é por monroe
em foto
monroe
monroe
eu não sei nada sobre você
nestes olhos
na pintura dos lábios
nas sobrancelhas do signo de
aquário
de ar
de que signo era feita
monroe
além de o qual
pouco aqui lhe dou.

terça-feira, 22 de junho de 2010

alexandre

se alexandre era bonito
ele foi o maior imperador do mundo
o maior rei
algo que o valha
embora os egípcios
tivessem toda a raça negra
dentro dos olhos
mas alexandre era de bronze
segundo uma canção qualquer
moderna
excitante
se alexandre fora bonito
com mãe meretriz e pai rei
ele há de ter sido
o maior.

na névoa dos olhos

tinha muitos poemas
na névoa dos olhos
eu te amo
eu perdi esses poemas
e eu reciclei esses poemas
na névoa dos olhos
repito
e não morro
mentira
morro sim
em cima do morro
no barracão
eu te amo.

a palavra órla

o céu lilás
não comove
não dói
não deve ter mais dor
antes paz
do que palavra
que venha em dor
angariada
com mãos sujas
de pó químico.

o dia nasce
manhã pura
água
dê-me tua mão
areia da mais pura
mar ao contraste
dos olhos
do sexo
que é o mar
da órla
da órla
essa palavra tem o poder
de me excitar
e me levar
para onde for,
para o mar,
o que seja.

amamos seria romano?

passarinho marrom e azul
de veludo
leia-se aveludado
é tímido
segundo seu telefonema
que eu lembro
faz cerca de um ano
objeto de angústia
lembrar do telefonema de quem amamos.
amamos seria romano
pelo tal.

objeto de angústia

o abajur faz de si
o que for
o que seja
quando apenas
é pura bruma
seja meia-luz
esta
e só
é só
é tanta
tanto
átomo
de luz
conjugado comigo
e com o mundo inteiro
através de teclas
plásticas,
objeto de angústia.
objeto de amor:
deus e a natureza.

domingo, 6 de junho de 2010

justificativa

atirei versos pela janela
atirei versos pela madrugada
escrever sobre absolutamente nada
é meu ofício,
justifica simbólicamente,
e faz com que eu me sinta útil
de maneira sobre-humana.

escudo

este escudo não me cabe
em dor não se deve escrever
e eu só queria mar, também
ou palavra só pra que me leve à órla
à onda
da vida
ao que não seja essa dor angariada
desnecessáriamente,
é noite.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

órla de ti

eu queria estar
na sua sala
com os abajures
em sua bruma
meia-luz
frente ao mar
na órla
na órla do teu sexo
entre as vidraças do edifício
entre a rua três mil e setecentos
na órla
na atlântica
na janela
onde mar engole
até os olhos
os olhos
de mármore
recôncavo
palavra recôncava
e eu deliro
e eu te amo
do mármore verde do chão
ao mármore dos teus olhos avelã.

embora verseje

o ponteiro
é inimigo da perfeição
do poema
é inimigo do silêncio
da madrugada
antes que nasça
o dia
antes que a manhã
substitua a letra
o verso
pelo sol em luz
em aurora
sou eu incapaz
de armar
um verso bonito
se contra o ponteiro
que corre
contra a inspiração,
o vazio
o tempo
o nada
o infinito ócio de que preciso
para armar um bom verso
que justifique meu dia
e eu não posso me revelar
de modo que o mistério
do poema que não é poema
sucumba na terra
embora ainda verseje.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

liz no peito

liz no peito
sua voz
está quase feito
albatroz
rima pela rima
madrugada
há certa preocupação
não dá para escrever
hoje podou-se uma flor
que eu vi
hoje eu defendi uma abelha
pelos olhos
hoje eu não tive febre
hoje fez frio
corpus christi
dia branco
eu não sou cristão
eu estou a deus
como uma pomba está
amanhã é dia
volto pra hoje
em lembrança
divagar
na letra
no ar
na asa
na andorinha que não há
faz frio
inverno
nos olhos
nos verdes olhos escuros
de cor de musgo e de avelã.

domingo, 30 de maio de 2010

sem título

sexo
droguinhas
e rock´n´roll
e modinhas
e seja o que for
quando meu amor
atravessar
na memória
dos meus olhos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

pobre escrita

pomar de poema
ponta de proa
pomba rola que voa
subterfúgios ao escrever,
pobre a escrita.

acerca de poema e lua

embora tudo que eu quisesse
fosse fazer um poema com suavidade.

um poema perfeito
é um poema só na mente
ou um poema nos olhos
ou ainda, um poema na rosa
que inexista ao saber
ainda
ainda que descubramos
e eu que nem sei conjugar verbos
falando acerca de poema perfeito
e tal e coisa
e eu que nem sei conjugar verbos
e em literatura sou romântico
preguiçoso
mas kafkiano
busco na linguagem do poema, a da lua.

romântico

transcrever alegria
transamba ouvi
transmutação de escrita
transa
transtema
transcrito na forma
transcende
transpõe-se
transmuta mas ainda romântico
transfazendo-se no que não é bom;
sempre romântico por fim.

terça-feira, 25 de maio de 2010

lua e poema

eu perco poemas
lua por entre folhas
isto é bem mais que poema
é poente e alta a lua
embora isto seja o poema
a lua dos teus olhos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

não o faça

não me faça chorar
não me faça chorar
não queira me ver chorar
então não faça nada
deixe só essa composição
barroca
tocar
não dê outro tapa
e saia por essa porta.

acordar em cólera

acordar em cólera
não me agrada
a vida
o dia
não me fira assim
que eu posso ir embora
é o máximo que
eu poderia
fazer
para me defender
ou matar
ou ausentar-me
desta sala
iluminada por luzes brancas
sobre mentes pretas
pulsos eu os corto
e os nervos
ficam como lembrança
em vísceras
envenenadas
num pote dos de laboratório.
o céu também está branco
não reflete nada
em lágrima metafísica
transparente
coisas sem cor me agradam
não me agrada a vida.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

manhã

pés congelam
dia amanhece
nuvem lilás clarinha
transcorre o céu
imensamente
manhã
frio
alegria
desagasalhado
é pouco
perto de amor
no peito
no sonho
que vem em termos
de esperança
posto que a cama
alí espera
só não há você
aqui
a não ser aqui
no coração.

domingo, 25 de abril de 2010

drama e dilúvio

dilúvio
pés na poça
profunda
do sonho
e depois do sonho
trovões
dilúvio
saudade e ódio
de ti que me deixa
lágrima a lágrima
a refletir
teu semblante triste
triste drama
drama este que não passa
de pura realidade
dura no coração
petrificada
abandonada, revivída
sempre
vívida e amarrotada
infância
cidade Saudade
onde nasceu
e eu, e eu
eu sou industrial
e alemão
e esqueci-me do intuito
desta anotação
de neurose,
que não tem arte,
nem nada que a equivalha,
além da triste navalha,
e de algumas rimas.

delírio

parar de escrever
não
não há outra saída
senão
parar de escrever
antes de ofuscar
a límpida linguagem
a límpida linguagem empobrecida
-meu poema-
paro de escrevê-lo
antes de empobrecê-lo
com tristes fatos
tristes fatos
repetitivos
eu sou repetitivo
-renanzinho
rema tão bonito
tão suave
boca repousa
sob olhos vivos
quietos e profundos
do signo de escorpião-
e a chuva e o trovão
me acordarão
em plena madrugada
-isto ainda é sonho-
não;
isto é mero devaneio,
muito embora para que o poema
seja como veio,
em seu primordial
talvez grego
talvez egito, talvez segredo
talvez primórdio primordial,
mas acima de tudo
luz puríssima,
eu não mais venha a escrevê-lo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

de saudade a delírio

noite madruga
noite mel onde
noite mal vem
noite sem estrelas
noite de fome
de tudo
de saudade a delírio
embora partam de um mesmo princípio
que sou eu e meus nervos
compulsivos
pelas repetições e palavras
e músculos
e fome
e fome que alimento não mata
nada mata esta fome
afora
noite de mil estrelas
e mares
e amor
e calor
pelos quais meu coração
e meu potencial dramático
choram por não ter
e por querer você
seja como for.

poema obsessivo

céu violeta
céu é meu único objeto de desejo
além do céu de seus olhos
que têm amor por mim.
escrevo pela insônia
por isto o triste texto
nem tão triste
nada triste
nada
nada
nada
morrer na repetição
não sei do que se trata
isto em meu coração
posto que não haja palavra
que haja apenas um grão
de solidão
que não me salva
nem me afoga.

descrição

céu alaranjado
fosforescente
pelo tal dourado
quase
quase não se deve descrevê-lo
posto que se assim seja feito
o perco
por um triz
pelos dedos dos olhos
retinas
rimas, não precisa
não precisa de
adereço qualquer
além do que era céu
agora é só descrição
repetição
por não perdê-lo
embora este se tenha ido.

domingo, 11 de abril de 2010

mensagem instantânea

-nos seus seios.
mentira.
pensando em...
desistir de tudo.
-não.
-de fato, meio vazio e saudosista
inspirado mas com imensa preguiça
da responsabilidade de se pôr
a escrever tudo isto
num poema.

lógica

céu
há muito esquecido
há muito no tempo relativo
de uma semana
muito embora
tempo todo seja relativo
acho
acredito
acho que nao haja esquecido
no tempo
como eu
esqueçi do céu
embora vislumbre
ainda violeta que era
violeta-dourado
rosá chá e marfim
e verdes vislumbres
junto a azuis de cerúleo
cerúleo
palavra redonda
a qual para o poema
pretensão de poema
palavra poema
para também
lógica
lógica não.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

correlativamente

abril
abriu-se
em chuva
partiu
ao ter-se
na lua
partindo
sob
ruínas
de casas velhas
eu não compreendo
nem isto nem eras
nem tampouco lhufas
preguiça
de escrever
assim como de viver,
correlativamente falando,
acabando,
correlativamente,
com o que seria um poema,
ou mera anotação.

sábado, 27 de março de 2010

fim relatado

febril
feliz
poemas os perdi
mas agora ponho-me aqui
sob luz branca amarelada
sob nada
sob casaco
sobre teclas
sozinho
em todo o sentido
sozinho
da palavra

só que as lágrimas
não me cabem agora
mas não,
eu não estou feliz
e há lágrimas aqui,
enquanto sou
humilhado
em mensagens instantâneas
distantes
chove incessante
e estou só.
deus,
nem niguém quis ficar
nem sob cordas
musicais
para onde eu quero ir
com este poema
para que lugar
para que dor
para que
clarão de memória
me explique.
aqui está:
- fim,
e chuva.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

sem título

saudade da garça
do cisne
do príncipe
da princesa
dos contos de fada
sem beleza
minha vida apenas
apenas idealização
saudade
pequenina morte
quando cai a noite
escrevo sem sequer pensar
salvar-me hei de
em palavra.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

colagem de andorinha

andorinha corta céu lilás
andorinha catártica
andorinha
é só minha
e do mundo inteiro
e do verão
e do mar
introdução
só pra falar de saudade,
de que seu telefonema
me alegrou,
isto não é um poema,
isto é só
para que eu me salve
de alguma maneira,
um poema suspendido
de poesia
se não fosse
a colagem da andorinha
embora andorinha
esteja suspendida
no céu
na asa
o telefone toca
e me tira
da linha
da página
da andorinha
do poema que não é poema
poente em meus olhos apenas
poema que não é poema
pretexto de anotação,
eu amo andorinha.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

se houver lua

quando a noite cair
vai ser outro porvir
para mim que não
quero nenhum dos dois.
quero a meia tarde
quero entre a noite e o dia
quero nada
quero qualquer coisa
quero maconha
quero escrever o que não posso
portanto paro aqui,
qualquer verdade
inventada seria o fim
da picada.
que droga é esta
que me deixa cansado
trêmulo
se papai ler isso
chora de desgosto
mas que saiba que amo
profundamente
a coexistência
que mesmo assim
resignada por mim
lava meu coração
daqui a pouco
se houver lua.

confissão

escrever não só por escrever,
como fui dizer em certa feita.
escrever para me salvar,
para não morrer,
pra reverberar
dor mesmo,
para que chegue até você
beleza mas que vem com
dor do mundo
acoplada,
como rosa,
como sangue
do espinho que nela
tinha
e eu me esqueci
usualmente
da idéia primordial
do texto
incoerente
embora seja incoerente e não possa fugir disto,
mas faz tanto calor que não bem raciocíno
eu devia era amar ao invés de escrever
mas não há você,
nunca houve,
nunca houve,
preciso confessar que o sujeito
do amor devotado
desses textos
nunca houve se não
em idealização
de qualquer coisa
que não seja vida,
da qual fujo
porque tenho medo,
e porque minha
epiderme
está fodida
dos nervos
escangalhados.

poema incoerente

não mais aguento
relento
remelento
remeleixo
saudade do trema
quero escrever
com fluência
confluência
condescendência
à sua idiotice
que não me lê porquê
é burro
mas eu prevaleço
nos acentos
e me aqueço
pela rima
não só aqueço
como fervo
como douro
a pílula,
e o acento,
o acento
é o nosso barroco
qual o idiota
acadêmico
quis minar
eliminar
defenestrar
nosso
barroco.
você está certo,
universal,
provençal
(pela rima),
posto que os provençais
sejam mesmo grosseiros
e você o é,
você que não me lê,
mas eu não o sou
e sou triste;
esta é a chave da história.

solidão

minha carência é só minha e de mais ninguém
ela vêm em dias quentes
nas horas de sono
de repente
ao que o sol não chega em seu poente
ou parece nunca chegar
apaziguar calor
ânimo, solidão
que sou eu
aqui.

minha carência é minha e de ninguém mais
porque assim eu a quis
porque assim eu não
quero ninguém
a não ser
quem não posso dizer.

hoje pela manhã, o sorriso de uma criança
suspendeu-me de minha carência.

eu sou carente mas não sou vulgar
como você, pelo menos.

mas sou um imbecil que compara
e sofre, e comparar é o princípio
de desamparar-se.

eu cansei de escrever,
só queria mesmo dizer
de minha carência,
de que estou só,
não por escolha,
não sem dor,
escrevo com fluência,
mas é pobre a escrita.

eu estou cansado.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

metafórico

tarde quente
ouço o telefone tocar
é só impressão
é solidão
saudade
que não posso ter
posto que você
quis me matar
eu sou mulher
de bandido
estas coisas desse lugar
não matam minha fome
nosso castelo nos meus
olhos
idealização pura
enquanto você
rouba
o mar pra mim
mentira
ilusão minha
de ti
você está apenas
vivendo
triste, feliz
o que for
se você me chutou
porta afora
agora
eu que não queira
voltar
esmolar
amor
regressar
pra dor
que era
mas teve carinho
quem soube?
o dia é quente
nada responde
apenas quente
e os ponteiros
parados
suados
amarrotados
em meu saturno
pesado
peito


coração
flor
amor
ilusão
calor
olor
paixão
devaneio
do que era
em palavras
suspendidas
de conexão
que rima com não
mas eu quero sim
quero viver
nem que seja sem
o amor bandido teu
que um dia
me roubou à beira do mar
e me pôs a sonhar
do teu jeito
mas eu traí
e me prostituí
e nunca te quis
agora só não tô
na sarjeta
porque
lavo roupas
pra fora
tirei nosso menino
da escola
cada antúrio do jardim
era augúrio pra mim
de um coração
e eu em devaneio
em devaneio
em pura idealização
brevemente
terei de me aprumar
embora quisesse apenas o mar
a lavar
em bruma
o sangue
metafórico.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

aeronave

uma aeronave corta
o céu límpido
de azul límpido
escuro
cai a noite
cigarra canta
o que minha garganta
dolorida não canta
estou bem silencioso
você não respondeu
minha carta de amor
mas sem rancor
eu vou lhe amar
lhe esquecendo
mas isto não é um poema de amor
e sim um poema romântico
sobre o céu e a aeronave
soberanos a nós
a mim
romântico
românticos
não amam no fim
não era o que voce se
me havia dito uma vez?
talvez você não lembre
com sua desmemória
seletiva
cigarra zune
no ouvido
marimbondos
estáticos no ninho
este tom da cigarra
fere
embora o calor o equivalha
à navalha de seu timbre
de seu timbre rouco
agudo
duplo
tem outra que canta
agorinha mesmo
neste dueto
que é para não me deixar só
mas acaba por me irritar
minha garganta também
áspera não canta
áspera nao de tristeza
só de dor física
divago sobre isto
apenas para que não se diga
o som maior
o tom maior
de ser um recomeço
agorinha mesmo
embora caia a noite,
posto que eu haja terminado um ciclo
não já sem pequena nesga
de saudade
que rasga pequena
esta é a dorzinha
mas afora isto
a seretonina
transfere-na
para outro
lugar
que ainda não sei qual seja.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

coração triste

eu estou tão triste
eu estou acabado
eu não tenho coração pra isso
justo agora que eu tinha engatado
a alegria pra poder continuar
a escrever e terminar de vez este livro
sem que para isto
eu tivesse que morrer de tristeza
você me pega de coração aberto
me dizendo essas coisas
de que na verdade
eu nunca quis ser amado
mas eu digo com o peito dilacerado:
não confunda não ser despudorado
para o amor
com ausência de coração:
eu estou sofrendo imensamente para escrever isto.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

religar-se

as pessoas oram
as pessoas chamam
elas clamam
naquela horinha
por algo maior,
e eu fito de canto
de olho este ato
antropológico
da oração
que dá carinho
quando a gente
precisa,
embora eu não
saiba orar,
embora eu
orasse com meu pai,
embora eu seja um bom
orador, no sentido
retórico,
isto quando não estou triste,
porque daí lágrima
atravessa palavra,
catárse:
eu sempre tive isto
isto que tentei rebuscar
no ato de orar,
os pretos oravam
e borboletas voavam
ao seu redor,
foi alí que rememorei
a religiosidade mais bonita:
a do sol.
a do deus sol.
porque foi a ele que designaram como tal
os primitivos.

domingo, 31 de janeiro de 2010

reverberar

roupas estendidas no sol
é um bom sinal
de alegria estendida afora
a tristeza habitual
mas hoje é alegria
hoje é domingo
mar a colar nos olhos
não em maresia
mas em lembrança,
e a felicidade está alí,
estendida sob o sol
onde estou,
no ar, no vento a levar
borboletas quais renascem no voar,
sem nenhuma cigarra a sibilar
coisas de dor,
só o sol a brilhar,
a mostrar que há vida
na luz, nas borboletas,
na rima,
no verde que filtra
sem dor,
e reverbera
em fotossíntese o amor.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

qualquer um

saiba que eu nunca quis ser um desgosto pro papai
e essa dor sempre me vem quando sou abandonado novamente
repudiado pelo tempo, pela noite, e pelo telefone
que insiste em estar imóvel e silencioso.
noite esta cinza.
eu estou cinza também.
eu estou cinza azulado.
eu espero você.
não tem ninguém do meu lado
não tem fumo
não tem sonho portanto
nem sono.
só a realidade insone
que não passa,
que custa a passar,
mas meu amor passou
por minha vida sem reafirmar
aquele diamante onírico,
pelo tal metafísico,
tais quais minhas lágrimas,
quais não caem mas encharcam o peito dentro,
e eu me perdi no texto,
usualmente,
usualmente a ti espero,
e esta dor me vem quando sou abandonado novamente,
com cheiros e memórias vivas,
pelo tal olfativas,
além disso meus olhos aguardam
o rosto de quem não digo
no entanto,
é só a chuva que cai
agorinha mesmo
além de minha alegria
esparramada
em poça, em areia, em suja bruma,
meu amor é suja bruma,
este texto é suja bruma,
eu espero que você odeie este texto.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

fim confuso

não lhe ter
escorrer você
pelas mãos
até penetrar
sob a terra
sob a era
da vida,
agora digo:
seja.
seja de nós
desatar nós
essa é a hora
a hora da virada
isto não é um poema
meu coração trêmulo
ama rômulo
e remo
e eu e você;
embora eu não saiba
do que isto se trate.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

o que for

tem perdas
tem chuva
tem poemas
tem que os esqueci
portanto escrevo aqui
qualquer palavra, seja qual for
qualquer uma me levaria ao meu amor
que hoje apareceu subitamente e como quem não
quer nada me entristeceu posto que eu espero
há dias e dias um sinal qualquer, o que for;
eu ainda lhe tenho amor.