quinta-feira, 27 de novembro de 2008

a perdi

nem fé.
que triste que é
não ter
não tê-la
sequer na boca
mesmo que haja
seu corpo aqui,
junto de mim,
mas tão longe
que a perdi.

com palavras

esta noite poderia ser a última
mas o televisor
a perdura
a madrugada ainda é sua
o sono
a perdura
eu
perduro palavras.

brancas

tarde branca
bate
nas edificações
rebate
à retina ofusca-se

cai portanto
luz branca aos olhos
invadindo-nos
translúcidos
páginas brancas
de quase nada,
sem lágrimas

só tardes brancas
sozinhas

terça-feira, 18 de novembro de 2008

vislumbre

eu não mais vislumbro
a clareza das coisas,
dos gestos,
das palavras

eu sou incapaz
de vislumbrar
a clareza
deste vaso celta,
sob esta luz violeta,

envelhecido de sono
e vazio de sonho,
desmaterializou-se.

de meus versos

a questão da espacialidade da escultura pós-moderna
está nua aos meus olhos
em seu primordial
problema,
nesta sala,
nos objetos entulhados sobre os móveis
que tornam-se pedestais em potencial,
base de coisas abstratas,
a sustentar livros,
inversos
a imaterialidade de meus versos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

partiu-se

vida
meada
de um fio
que se partiu.

naufragar

ninguém
a me abarcar

vagar à deriva
à neblina
ao mar

um barco de vigas insustentáveis
pode vir a naufragar,

amor.

esmaecido

minha fragilidade
é o canto de um passarinho ao cair da tarde
emborcado em lágrimas
quais os olhos custam a derramar

ela é um mosaico de vidrilhos frágeis
sob esta luz esmaecida do anoitecer.

caiu

tarde cai
inexistiu
sem voz
sem vós
tarde caiu

e com ela caíram
lágrimas
pássaros
e ondas.

nada

pipoca
forma de coisa
lúdica
miniatura branca
de coisa sintética
macia
milhares
alí
no balde mudo
na noite silenciosa
nada
a nao ser isto.

chagall

chagall
me aconchegou
sem fim
dentro de seu sonho
de negro de noite
de azul marítmo
e de marfim.