sábado, 31 de dezembro de 2011

aboio

dorme boi

chove aboio

onde foi nos trilhos

perdeu-se eternamente

mas perene

madruga a aurora

impávido amanhecer

alguns pássaros ousam cantar

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

sobrehoras

sobrehoras
sobrevoam
sobreplanam
sobrepõem-se
sobredizem
sobre si
sobre sós
sobre sau da d e s

velato

sobreposições de branco

estanco estancar

das folhagens e do mar

em solidão retínica

branco voar

faz o pássaro

e o estanco estancar

do branco no branco

das velas embarcadas

e das palavras veladas

não vai dar

a algum lugar

a não ser onde o mar

simplesmente

fica

você sorri

platônico e romântico

como eu

fui

vila mariana

é como erechim

em arborizadas solidões

só para mim

em chapadões

arpoadores solos

e mesmo assim

crianças acenam de automóveis bem longe

e bem longe,

se pelo tal esconde,

você sorri.

domingo, 25 de dezembro de 2011

recorrer a Kronos

nao se mova

ponteiro

algo de noite

corre mais rápido que o tempo

peço que pare

estanque

idiossincrática

e universal

fatal

estática

mesmo que não seja

hora

pare

para que eu não

recorra

simples açores

amadeiradas madeiras molhadas
na beira das barricadas
onduladas ondas
olhos de areia
noite de reis
fogueiras
estrelas
você

yoñ

noite fria
estanca
no chai
na erva
doce
quente
silencia
o silencio
do som
sob a chuva
silencio do som de yoñlu
yoñlu
está livre
leve
e solto.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

fins de dezembro

fins de dezembro
mortes afogam-se em ondas
nas brumas sao engolidas
e chegam na órla aos trancos
e barrancos
rampas da cidade brilham sob o sol
o limite do mar azul
promessa
alento
tudo lento
o ar da cidade turva
tudo calor
quase tudo amor,
se não fosse a humanidade,
quase nada saudade,
se nao fosse Cajú
e meu sertão.

solidão da ardósia

a solidão
não passa do chão
da aspereza da ardósia
exasperação áspera
ardilosa
embora silenciosa
ociosa
tranquila cinzamente
suor na ardósia evapora
ardósia
não reflete a mata
mas contra o cinza
o verde relata
vida
embora na ardósia haja vida opaca
como eu estou.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

saudosismo

se tem estrelas,

não sei.

não parei para ver

para o ser do céu.

claro clarim

dia do deus dos seixos
dia do deus das ondas
dia do deus sem deuses
dia do deus sem deus
dia do do deus que mora
na escuridão
claridão
solidão
multidão
do seu olhar não
esquecerei
digo sim
claro clarim
claro talvez
canta palavras imateriais
idissociáveis dos silêncios totais
os quais ecoam mudos no som
chapados
compactos
intraduzíveis.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

escudo

onde estas na cidade
desaprendi a escrever-te
embora precise
nao diga
mas ressinta
por trás dos escudos
dissipados em imaterial
solidão
absolutamente palpável
pela ausencia
e seus sons
vocalizam
ao pé do ouvido
atrás da porta ouvi algo
mas desaprendi a escrever

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

fio

eu falei mesmo quando morrese
eu estaria calmo
isto é o que sou
e a dor é só um fio
dentro
e escorre em lágrimas
dentro
do alto da sacada
fora
ao chão refletindo a lua
e a lua completamente sozinha
reflete minha solidão
eu digo não
digo sim
as nuvens encobrem tudo
a dor é um fio

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

repente das horas

as horas correm
voam
poderiam parar
pra eu te esperar
enquanto nao for
hora de partir
estou aqui
sobrevivemos frente
ao repente
das horas
avenidas
automóveis
horror humano
o fim está chegando
de maneira universal
e idiossincrática.

planificação apoética

chuva cai
e anuvia
cai
anuvia
desiste
para
volta compacta
lava memórias
hoje é segunda-feira

sábado, 26 de novembro de 2011

zen

pássaros
desanuviados
amarrotados
no canto alto
em grau sonoro
e também criativo
portanto escrevo isto
para reiterar o zen sufismo
do som que planifica a manhã.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

das pedras do arpoador

horas voam
sono aterrisa
das pedras do arpoador
o sol se poe
quando te amo

lágrima prismática

quando
ainda era dia
e a porta se abria
e uma estrela sorria
quem brilharia
a não ser quem sorria
quando a porta se abria
e ainda era dia
posto que brilhasse muito
posto que não fosse estrela
posto que fosse vênus
refletido na lágrima
pictórica
pectoral
prismática

sábado, 19 de novembro de 2011

estrada

gonna cry
gonna die
por onde vais?
de onde vens
para onde
vamos
quando morrer.
morremos hoje,
amanhã,
ontem, sempre,
diariamente,
coloridamente
ou nesses monocromáticos
sonhos;
os meus têm cor.
a noite é negra,
solitária e sem dor.
ondas quebram
a milhas de distância de mim.
rapte-me
e me leve pra uma estrada
sem fim.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

lluvia

vem

te chamo

pelicula

aquática

à madrugada

vem a mim

à cidade

cais de porto

das palavras

amadeiradas

molhadas

ondas quebram

na escuridão

embrulham

no som

nos perdemos

então

cais de porto

abandonado

vem a mim

te chamo

sob ondas

aquáticas

e sonoras

belugas

belugas

são bichos órca

embora só brancas

acinzentadas

imensas

aquáticas

mamíferos

sonoros

distantes

e oceânicos

sem adeus

quando ler
isto pode te fazer
rememorar
o que já foi
em três palavras
poderia
voltar

eu te amo

apenas
ou eu te amei
cairia bem
poemas não são carências
yung o disse
yung o disse que carências
não são poemas
nem tampouco ultrapassam escrita
enquanto legitimidade
linguística.

linguística perdeu o acento, acredito...
acredito que amar-te não te faria querer
embora lembrar-te o faria.

e é só isto que a mim importa.

hoje há lua? há estrelas? as nuvens a encobrem?

ela dorme, você comemora, eu só neste apartamento

alento

um pouco

em determinadas

palavras

sem adeus

domingo, 13 de novembro de 2011

que chova

nas madrugadas de chuva
coisas se apagam
filtram na terra
umida
apagam-se
pra sempre
ou mesmo pra de repente
amanhã
quem sabe
mas que se apaguem
portanto que chova
e sucumba na umidade
que deixaste.

sábado, 12 de novembro de 2011

atenda

atenda

chamada

aérea

sono

wanna puff

loving you

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

mar, nós

queria mesmo
banho de mar
na noite a esmo
na lua a esmo
no esmo de nesga
de lua a brilhar
sobre céu dourado
só luar
inversão
as cores são
todas uma
trocam na lisergia
orgânica
que já há nos olhos
e nos corações
eu só queria
banho de mar
na escuridão
do mar e da noite
sob lua a brilhar
luar
luar
precisar de ti
nem preciso
mas quero
aquele brinde que faltou
sob mar
ondas
luares
e tudo o que fizeres
sem nem desejares.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

infinitamente

a beleza do seu rosto
é de tal maneira
infinita
que eu só faço sorrir
ao lhe ver chegar,
ao partir,
apenas esperar,
e num momento
de quase vazio
ao surpreendente,
readquir velozmente
a vitalidade
do seu olhar,
que sorri a mim
e faz amplificar

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

8 janeiro

gela

a alma

o fio de geada

amalgamada

tantas coisas correm

no tempo de hoje

lembra quando

ela chegou

nós a saudamos

onde você está

agora

posto que bem distante

terça-feira, 11 de outubro de 2011

dor/som

dói
coisas de guitarras e de som
não posso escrever sobre
som

esquecer poema

cigarras

chamam

teu

significado

literal

como dizer

que no som

chamam você

sem romantismo

só chamando

porque

toca

wonder

aquelas bem tristes

pianos

ristes

hastes

do som

pilates

das cordas bambas

das frequências

gastas.

kessi

gostaria

deste esquete

mas eu gostaria

de esquecer-te:

poema.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

breve partida
presente ainda
na imensidão
do meu céu
que pelo tal
era todo seu
bolero toca
luar alto
crescente é o quarto
embora encontre-me
farto
e ausente
portanto parto
deste lugar
iminente

como a um indigente

ser

terça-feira, 4 de outubro de 2011

tragar

queria
ter te
ter
te-la
lo
no trago
madruga
trago do ar
fumaça
estepe
ramagem
bolha
onde encontro-me
sem futuro
tão menos passado
já passa da hora
eu sigo calado
te quero na bola
do trago
desse poema bizarro

sábado, 1 de outubro de 2011

insignificante e total


do alto
lágrimas
secaram
aqui
sinfonia de pássaros
água
cheiro de fragância
molhada
de pessoa inanimada
inanimadas pétalas
caem
aos poucos
cão fala
lá fora
ladra
e diz

sobre nada
o que me é tão caro

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

tua presença

vou para a rua sozinho
encontrar teu nome em algum ladrilho
alguns passos bastam para
atravessar esta porta
entre eu e o mundo.
mundo;
leia-se ladrilhos
de uma rua escura.
algo de sombra e luz provindo de um poste
alaranjado e ofuscado,
mas é nos musgos e ranhuras
que encontrarei teu nome,
ou a surpresa
de luz de lua,
isto supriria a ausência tua
mesmo que eu não a recriasse
num porvir de ladrilho,
paralelepípedo mudo,
rachadura de muro,
ou mesmo sons de meus passos
entremeados secos
por um latido de cachorro
seco e bem longe,
e isto
já justificaria esta noite
vaga e distante.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

acaso

traga carta
notícia
telegrama
no vento
do que outrora
alento
era
sem dor alguma
pois as flores
trazem na bruma
o cheiro de
amar a tudo
algures
de cores
resquícios
de outono
se não fosse
primaveril
anil faz o céu
me chamaste agora
no fio do som
longe
de um telefonema
bem longe
corta a lágrima
seguro
digo sim
digo
não sei
quanto a atender
o que o acaso
fez

domingo, 25 de setembro de 2011

em nós

foste.
ainda te amo
dizer que falta você me faz
não digo
não por orgulho
mas porque isto é obvio
devido a minha carência
e dependência emocional.
mas deixar
deixar
ram
ram
partir
no amor
mantra
de coisas boas e renascimento.

mas eu sempre estarei

em nós.

sem fim

a quase manhã
ainda noite
ainda é promessa
de luz
embora na escuridão
haja sombra de luz
ponteiros parados
tempo infinito
mente no ar

o tempo parou

e lá fora

a geada produz seus sons

terça-feira, 13 de setembro de 2011

vazio

no som
som do ar
som do silêncio
do sono
do que não lembro
do que relembrei
do que nem sei
que trocadilhos
preguiças
som parou
saudade mas vazio
forma não triste
imageticamente confuso
o texto faz supor
que algo acabou.

sábado, 10 de setembro de 2011

sons inevitáveis

televisor

barulho inevitável

desnecessário

abafado no som

do

televisor

dos cachorros

ladrando

abafado

pássaros

abafados

no som

do ar

do piu

nem posso escrever

o que me cabe

a mim

posto que no fim

sejam

abafados no som

televisor

piu

cães

e a voz feia

daquela menina

que lhe roubou

de mim.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

acessos

chamadas
vãos
acessos
pórticos invisíveis
luzes
entremeio
de sombras
são como brumas
de ondas
metafísicas
é tanta liberdade
que meus braços pedem
e despedaçam
em gesto
de abertura
algo como andorinha
e imensidão
oceânica
é tanta
que a página é pouca
e essas portas
e vãos
acabam por pedir
libertação
tanto na imagética
quanto na página.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

sem sangria

os quadros
sempre ficarão
eu não
mas eles ficarão

os livros já foram roubados
o amor já foi destituido
de algo
que nem lembro

chove

amanhã é só outro
dia
e agora
sem sangria

a madrugada segue absolutamente
vazia

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

mention

nem uma mention
nem tchau e benção
nem nada
aquecedor aquece
abraço a mim mesmo
olhar perdido
procurando em mim
o que ninguém
acolheu
triste fim
começo
cobertores esperam
me deixe sim
mundo dos sonhos é tão...
é mais...
que...
nada.

sábado, 20 de agosto de 2011

esquecimento

lágrimas
são mais importantes
que meras lágrimas
de ar
pessoas falam
cães ladram
é tudo igual
sempre
posto
que eu nunca entenda
o que sempre
é igual.

claro futuro

eu ja nasci abandonado

me deixe com minha neurose

leia-se

desordem nervosa

choro por ti

abandonado por ti

por ele

por ela

por essa vaca

tem três indivíduos na minha frente

eu chorando

e completamente só.

faz frio

pássaros cantam bem longe

não tenho sequer seu telefone

te amei bastante

mas agora estou

indo

mas foi tudo lindo

e eu acredito

num claro futuro.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

sem palavra

sai
ai ai ai
de mim
plágio
associação
mera
yung odiaria
yung nao tem nada a ver com isto
yung
coletivo
yung
amor
neurose
desamor
neurose
vazio
neurose
se não for sem palavra

alguma

cai, ai ai ai

estourando copos
cachorros latindo
silencio
cacos
espatifados
contra paredes
mudas
vidraças
luzes dos
olhos
da cidade
cães ladram
a quê?
por quem?
lágrimas vão de mim
e vem
vão e vem
e vai

etc

vazio
vodca
versejo
verdecer
você não me ama
televisor
retina
etc

a vc

verdejar

alecrim

para mim

sob chuva

sob coração

partido

te odeio

sinceramente

idiossincráticamente

tristemente

fugázmente

eternamente

versejar

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

janela física

lua nao veio

cachorro

lágrimas

no parapeito

janela

olhos

alma

plagio

ideal

choro

agorinha mesmo

plagio

de versejo

nao queria escrever isto


domingo, 14 de agosto de 2011

perdeu

essa dor no meu peito
agora que meu dia se foi
chove
para que eu não chore

nada
amor chegou mas
é distante nos trilhos
dos trens
dos rios grandes
qualquer coisa
escrever para que?
o dia se foi
se vai
ela também
amanhã
amanhã eu...
'é difícil perder-se'...

sábado, 6 de agosto de 2011

incondizente idiossincráticamente

elis
pianos
solidões
vazios
plenos
planos
planificados
planificados na dor
da solidão coletiva
e você me deixou
e gritos e televisor
e sons que não dizem nada a mim.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

se o for

meu amor
voce
meu amor
voce
meu amor
pra que
se o for
lhe querer
mais
se
sofrer
já lhe tens
por querer-tes
assim
recluso coração
verdadeiro

terça-feira, 2 de agosto de 2011

fix

explicit
fix
fixo
cardinal
terreno
terrena
saudade
pelo tal
solitudinal
mas junto
no plano
aéreo
espiritual
leia-se: lembrança
terrena
saudade
da velha
cabra
que muito
te ama
venta
muito
eu te
daria tudo
nesta
noite
estrelada
de ar
lua nova
a brilhar
no céu

domingo, 24 de julho de 2011

fuga

pássaros fazem
póstuma homenagem
em figura de linguagem
em pio
em nuvens chumbo com fio
de luz
que pego no ar
nao deixo que se vá
mas se esvai
foge

quinta-feira, 21 de julho de 2011

promessa

eu deixei umas lágrimas alí

sobre a fronha

prometo te deixar

nada é tão simples

pensar é a dor primordial

o pensamento

quão mais escrever.

domingo, 17 de julho de 2011

john

guitarras soam
estalam
no espaço
guitarras suas
tão elétricas
quanto a voz

voltaste

voltaste

em som

em partícula

etérea

e imaterial.

sonora

padrões de decibéis de sua voz

chegaram aos ouvidos

em sonho

ondas sonoras televisivas

cortaram isto

em som

familiar

embora

irreconhecível

som fúnebre este

em algum lugar

contra piar de pássaros

bem longe.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

elo

não chore

meu amor

não chore

a ilha te abarca

as montanhas

o vale

a rua

a poça da chuva

ou até mesmo

a lagoa

do Peri

pode chorar

por ti

abarcada nas águas

de uma vida inteira

e das lembranças

de nós

pois então

não chore

porque a lua cheia

nascerá em instantes

e brilhará pela noite

num elo divino.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

bons sonhos

bons sonhos

plumas de sonhos

mais leve que a palavra

te proponho isso

em pensamento

para que adormeça

na suavidade

do deus do sono

que ao seu lado

te guarda

sob lençois

paz

brancura

renascer para um novo dia

para um novo amanhecer.

nota breve

o mergulho é azul

eu sou azul-negro

o orgulho és tu

e teu signo, vermelho.

vocal silencioso

mas eu ouvi
um timbre
de voz
uma palavra
bateu atroz
em mim
por nós
apenas
nós de velas
tateio algo
de expressivo
e vazio
no ar
texturizado
palavra também
eu me perdi
agora.

paz escura

a casa
nada fala.

coisa alguma
fala por ti.

nada.

não espero.

noite vai caindo.

vou caindo no vazio
do silêncio.

solitudinal.

pacífico.

sinal

um sinal seu quando a noite cai
quando o céu se faz dourado
e se poe lilás.
ao menos um sinal seu,
ainda que breve
e fugáz;
tanto faz.
esperaria mais e mais
mas me tiraste da paz
do tédio.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

anotação de cunho obsessivo

o meu amor
o meu amor que eu encontrei hoje
licença romântica
o meu amor que eu hoje encontrei
e o admirei por uma eternidade toda
por quinhentas vidas
obsessivamente
mas suavemente
ao longe
platônico
mas verdadeiro em mim
aqui
sempre
desde sempre
tudo tudo tudo tudo.

escuridão

esta lua
designa solidão eterna
saudade recipiente
gigante
preenchida
esvaziada
lágrima vem
pois você não vem
lua minha designa
solidão
eterna
e desde que vim ao mundo
me deixaste
sei o que designa
luar sob Saturno
a melancolia eterna
mas nunca hei de me acostumar
os ladrilhos aqui estão todos sozinhos
e escuros
e você não está.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

tatear por

insone
não medito
procuro
algo do porvir
telefone está mudo
não preciso
portanto
estar
insone
ao mundo
e, não meditando
agora
quando atesta-se madrugada
pelo suor das vidraças
procuro
tateio
por cobertores apenas
não enquanto linguagem poética
em figura
mas como sujeito comum
dentro do silêncio ocidental
por onde a madrugada, pelo tal
se pronuncia.

algures

escrever
aprofundar-se
nos olhos da alma
na escuridão do silêncio
leia-se brilho luminoso
puríssimo
e amar
dependendo apenas de
despender
libertar
fazer
de a mais pura limpidez
o cais
onde um quarto crescente se faz
algures.

schwanenfedern

a alegria
se anuncia
a qualquer hora do dia
até mesmo quando nenhum pássaro pia
ou ainda pôs-se a cantar.
asas de candura e liberdade
anunciando em silêncio
a passagem do pássaro pelo átomo do ar,
mas este não sabe que o faz;
nem tanto ao pássaro
nem tanto ao céu.
amplo e solitudinal ato
inconcebível a ele,
razante na força,
na pureza,
e ainda assim lírico.

domingo, 3 de julho de 2011

sem poema

aquário;
minha cidade

aquário de montanhas

sol sob o signo de peixes

luz sob o signo de o que seja

chove tanto

porquanto

quase morro afogado

sexta-feira, 1 de julho de 2011

insônia mediterrânea

dionisiaca
insonia
saudade das vidas passadas
saudade do mediterrâneo
saudade de Xenofonte
divagar
sinto-me preso sob teu olhar
teu olhar meu
me sinto livre sob teu olhar meu teu
planejo matar quem te faz mal
quebrar pratos de amor
isto não deixa de ser
morte
grega morte
grécia não passa por trânsito astrológico propício
à ruína desta civilização
divagar
eterno é o mar
insonia mediterrânea
vinho literal atravessa a garganta.

matinal ainda noite

é bem tarde
chuva nos corações a saudade
molha as putas rameiras à beira da ramagem
guitarras
e metal sob travesseiros suaves
plumagens
sonhos
a palavra é simples
mas a vida
atenciosa e verdadeira,
é bem tarde,
leia-se quatro da ramagem
da matinal ainda noite saudade.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

texto ruim de blog

o que você acha que seu texto ruim
pseudo-filosófico
anotação de cunho neurótico
narcísico
água espelhada vazia
sua admiração por mim
não me diz respeito
isso te frustrou
não espero que reconheça
o que você acha que seu texto ruim
causa em mim
além de contaminação maléfica
acho que desaprendi a escrever.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

diluição

maldiga minha escrita
mas não transcreva minha escrita
sem a alma
sem o amor
sem a viscera
sem a verdade que for
nem tampouco sem a dor
da navalha
na carne da palavra
no cerne
da coisa

no nada

nada este
impregnação da palavra
não mera contrafação da mesma
pois então não o dilua
se você o faz de maneira crua
eu o refaço de maneira
orgânica
na contramão
de tua idealização
pura ilusão literária
ou mesmo mera diluição.

terça-feira, 28 de junho de 2011

impressão tanto fotográfica quanto platônica

sua foto
o profundo
da circunferência dos olhos
bidimensional saudade
chapado coração
ainda que na impressão
fotográfica
isto me sensibilize
mais que a lembrança vaga
embora presente
do timbre de sua voz
a qual, acredito
jamais ter a mim
se referido.

domingo, 19 de junho de 2011

sem título

se lhe me dá o sol
pelas mãos
escorre
partícula luminosa
palavra não é luminosa
quanto
se lhe me dá o sol
entre os dedos
escorrendo
particula etérea
luz primeira
lúcifer
palavras não são luminosas
se lhe me der
lua contraposta
justaposta ao dia
quando escrevo por escrever.

signo

signo
é significado
meu
e do mundo inteiro
que compartilha
daquele signo
este
cabra
Aretusa
ferida está
voltando ao signo
o que seria
significado fatídico
factual
pelo tal fatal
e o sol
é pra você
se a fizer
renascer
sob outro signo.

e o sol reje leão.

sábado, 11 de junho de 2011

nota

desconforto da lã
conforto
da solidão em pensamento
existir
não tá fácil
esconderam os calmantes
não tenho ninguém
todos estão na festa
a qual eu recusei
não mais me exporei
só errei
em ter aceitado
em ter sido passado pra trás
mas não tem rancor nenhum
só solidão absoluta
nada
leve irritação
e esqueci do objetivo do texto.

o texto não tinha objetivo algum.

o não pulsar

quebrar o televisor
em pensamento
não pulsar
o não pulsar
pulsos
eu os corto em pensamento
ódio
é
verdadeiro ódio
fúria silenciosa
pacifista
humanitarista
fúria embora eu esteja feliz
como se explica
como se explica
pura neurose
este texto.
escrever transferindo pulsões
é um ato de idiotice.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

pier

Pier
piar
per noctem


a noite se pôe em flanelas
fumaças, fogueiras
e te queria aqui.

sem título

Cello
Cravo
metal antigo
crava algum acorde
que lembra eternamente
o céu que acabou de se pôr.

só pedras e livros não são passageiros.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

chuva ou linguagem?

chuvas
são como versos
sem palavras
esvaziar o verso
é como chuva
portanto
isto que se
chama de texto
só não
materializa chuva
porque não tem água
mas posto que a palavra
seja tanto aquática
quanto elementar
isto é, seja linear,
partícula chuvosa,
então,
isto é chuva.

a voz da lua

esperei ao pé do telefone
seu nome

lua nova se pôs bronze

fina
canoa
varando
na noite

alta no ar

suspensa no móbile

da madrugada

pura

embora crua

posto que nenhuma
estrela

portanto escura

ouço sua voz

bem longe.

por teus olhos

as ondas quebram no campeche
eu sei
por ouvir por ti
o que importa
o que teus olhos azuis não vêem
na escuridão das ondas da noite
as ondas que se quebram no campeche
e o versejo que quebra na garganta
chama teu nome
por teus olhos
o mar faz-se bravio
pela noite que anuncia
a madrugada bravia
na velocidade da noite
transformando a tudo
- alma do mundo -
na órla dos teus olhos.

primaveril

a primavera
nos fará
o que fará
com as cerejeiras
e às flores primeiras
sob infinitas cores
do meu amor.
esta nota
não é romântica
nem só pra ti
é promessa
de porvir
de sol primaveril
sob blues
sob wonder em manhãs
frias de sol
limpidez de céu
azul
azul dos teus olhos
negros
refletidos
na palma do céu
para a palma
da página
do meu peito.

sábado, 4 de junho de 2011

o blues da alma de um amor

me diz se você se entrega
se susurra
as promessas de outrora
o blues da alma de um amor
nunca acabou
choro deixou
agora
só lágrimas dentro
eu repenso
nas promessas, sem rancor
mas ainda lembro
das juras de amor
não posso mais entregar
regredir
voltar a nós
porque isto fará levar minha sanidade embora
junto às ondas deste blues,
eu sei.

no verso

ondas quebram em rochas
sob o parapeito da memória
queria fazer o poema mais lindo
chegar ao inatingível
não por requintes de literatura sê-lo
mas pelo requinte de no verso tê-lo
pra mim.

vital

a tarde vai caindo
e vai caindo o piar dos pássaros
antes o tédio da paz de seu canto
do que o tédio do cotidiano

trânsitos
edificações
enquanto só quero
edificações imateriais

oníricas

vazias de tudo
mas veladas de alguns tons
solitudinais
vitais sem ser mesmo vitais

mas porque mesmo pensar
se encarregam-se de existir
o piar e o cair
da tarde apenas?

segunda-feira, 30 de maio de 2011

alguém grita

ator medíocre
atuando no televisor
espero que vá
aqui não pode cantar
ator canta mal na bahia
e eu não posso piar na platéia.
email nao respondido
quis te olhar no sol
mas você com seu orgulho negro
e seus olhos pesados de farol
bolas de gude pretas
pêcas
raiva
era pra eu preservar meu coração
atores, orgulhos: leão.
isto não é indireta baixa,
isto é eu sou louco
a ponto de compreender tudo
só através da palavra escrita.
mas a partir de hoje
eu só transcreverei do ar
para a página;
aqui eu não posso cantar,
esclerose de um,
raiva transferida de outro,
queria fim fez um fim pobre,
ao menos o tivesse feito
algo com bolhas
de champanhe
ou de risos,
avisei que meu coração tava machucado
e cansado da escravidão
das neuroses.
algum grito abafa este texto pobre.

domingo, 29 de maio de 2011

aconchego

quero o aconchego
de ravióli de chevre,
dos edredons,
o aconchego
de nosso ninho
à preciosidade desta noite,
aconchego sem memória,
eternamente o presente,
o verdadeiro nome de deus é aconchego.

sábado, 28 de maio de 2011

inverno

cristal
do ar congelado
frio invernal
obrigado
à noite
e as estrelas
mais límpidas
pelos mais secos dos ares
noturnos
beijos sob o soturno
frio,
madeiras,
lareiras
transpalinas
cristalentes
de geada derretida
no conhaque
no peito saudoso
de ti,
inverno, ao que isto nos deu
e nos dará eternamente:
amor
e o amortecer da dor,
enternecê-la
friamente,
pelas substituições
quentes
de supostamente
um beijo seu.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

canto sintetizado

sinfonia abafada
do canto das cigarras
colagem sintetizada
de ondas sonoras orgânicas
sob a textura
do ar
da noite.
sua umidade
abafa o som
do canto distante
das cigarras,
pois nós
e o seu canto
temos este teor de melancolia
abarcados em sinfonia
pelas montanhas da minha cidade
e de sua umidade.

e eu cansei.

Acre e Peri

acre
ocre
enfim você voltou
eu já estava aflito
nem sabia onde era a aldeia em que
estavas
pra um possivel resgate
em meio às águas
mas você chegou
toda pintada de jenipapo
para às águas do Peri,
para o refúgio do nosso Peri.

solitudinal

sol
solitudinal
ressaca
das ondas
do lóbulo frontal
escrevendo
versos na areia,
passional,
mas serei frio.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

pérola

cão ladra pro céu
posto que seja breu
que não haja nada
a não ser o breu
cor-de-rosa
se pondo contra
as montanhas
verde azuladas
de minha cidade
a pérola do céu
ofuscada pelo
latido do cão
cão suja a pérola
do crepúsculo
esta era a pérola
do texto
a palavra pérola
não mostra o que
a pérola
embora seja
perolada
mineral, amalgamada
madre-pérola
dos teus olhos
madre-pérola
do cão calado
madre-pérola
rosa azul verde água
do canto invisível
da cigarra visível
do delírio invisível
da palavra visível.

seu quadro

saudade
da tua roupa preta
da tua crua pureza
da tua delicadeza
da tua destreza
da tua beleza
no gesto
cru
branco
terreno
meu refúgio
pelo tal platônico
telefone me chama
e encerra a palavra
feita a partir do quadro
teu
puro
branco
desenhado.

terça-feira, 24 de maio de 2011

fim

teu rosto no televisor
é um fator excitante.
tira-me do tédio.
do desejo rompante
de abandonar-te.
já me abandonaste.
me abandonaste, vida.

cansei desses textos carentes.

de mim.

espera telefônica

perdoem a
má escrita.
necessidade
lírica
literal
literária
ou puro ódio
ou pura palavra
quem dera fosse
espero o telefone
teu

só eu
aqui.
como se arma o céu?
em qual escala
onde amalgamada
em que planeta
arma-se a hora
em que signo a lua
afora
probabilidades
astrológicas
escrevo
na espera
de só um telefonema
que encubra
a existência
que dói.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

mentiras patrióticas

não dá pra escrever
quando se está
triste.

publicaria
este mergulho
no céu.

joinville
você é minha cidade.

mentiras patrióticas.

desisti disto.

basta escrever o poema e jogá-lo na onda.

que morra na praia.

cada grão de areia é um verso
colado nos olhos.

irrevogável solidão

tem horas
nas quais
precisamos
irrevogávelmente
estar sós,
na urgência
do vagão
solitário,
como o desta
noite;
saudade
da janela
que se abria
para a escuridão
do centro cívico.
reencontrar
ao rememorar
o vazio;
televisão
tira as palavras
dos dedos,
atrapalha o texto,
as pessoas estão vendo,
enquanto escrevo
porquê escrevo.

domingo, 22 de maio de 2011

renascer

solar
elementar
renascer
abandonar tudo
morrer para o passado
de cada segundo
vivído
amarrotado se adquirido
com esmeros de saudosismo.

solar
o momento
de agora;
de súbito
torna-se nublo;
renascer nublo, portanto.

sem

futuro

domingo

fogueiras
fumaças
formas materializadas
no ar
elementar
de domingo.
domingo,
e só.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

neurose 2

confundido

por meras palavras

tuas

quais

batem como ondas

é por pura solidão

essa aporrinhação

de escrever-te

amar-te

vertente romântica

vazia

guitarras no ar

me confundem

foi-se o tempo

em que eu estaria

no chão

agora

é no máximo solidão

para a qual

digo não

por pura carência.

arde a noite

a mata se move
a partir das folhagens

cai a noite

traz a sangria:

pura fantasia
de encontrar-te

alegria não se sabe
se o é
onde foi
onde se perdeu
se ainda arde

à memória
pela fantasia
de encontrar-te

pela noite

se ainda arde.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

nexo do desfragmento

seus sonhos são
assim como escrevo?
ou seu pensamento?
ou
o desfragmento
do ar
do olhar
qual provém
também
do pensamento.
se não fosse
a forma em si
e só,
nada seria.
prolixo
se o fosse
algum nexo.
prolixo
mas eu só queria lua
na página
colada
embora amarrotada
mais que em matéria rochosa
menos que romântica.
tanto quanto: ave o texto!
que escrevi para ti,
equivalente ao pensamento
nosso
que o tira de
vossas realidades
de verdade improváveis.

fronteiras

máquinas
sons
auto-exílio
aeronaves
neves
solidões
metrópoles
ou apenas ilhas
desertas
resorts
resorts não é figura de linguagem
das mais poéticas
diamantes
desolação de los angeles
fugir
desaparecer
respirar
outros ares
a intenção
era não ter
fronteiras.

matéria prima

acredito que só escreva
para suprir o tédio.
nem sei se há lua
mas os cães ladram.
ladram para caravana
que não passa.
a caravana do tédio.
eu estou tão só.
garganta não se pronuncía.
transbordo de alegria
por pura fantasia
de enganar-te
quanto ao humor
calado
amarrotado
e o texto flui
para amarrotar os ponteiros
Ana pergunta-me as horas
e eu não queria sabê-las
Ana fala ao telefone e ri
parece estar bem
Ana pergunta-me novamente
as horas
e me influencia
de maneira que não seja
lírica, etérea, metafísica
que é a matéria prima
do que seria
o poema
que se acabou.

domingo, 8 de maio de 2011

sinal

que bom o teu sinal
mesmo que por rede social
dia das mães
espero a minha no sol
toca bowie
saudade
faz um lindo dia
dia qualquer
se não fosse domingo
escrevo enquanto espero
sob leve calmante.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

neurose

tevê
tosse
cobertor dobrado
ar condicionado ligado
poema deletado
para ocultar minha dor

o mundo acabou

joelhos doem muito
talvez chova
escrevo nada
absolutamente
mera anotação
nada consequente
nada rimando
e a dor continuando alí
física

a neurose do texto.

plágio

nunca mais falaste
nunca mais vieste
nunca mais viste
nunca mais deste
a rosa pequenina
a rosa plagiada
rosinha de uma canção
rosinha de teresina

nunca mais deixaste
nunca mais amaste
nunca mais riste
nunca mais todos os verbos
errôneamente conjugados

nunca mais foste
igual
a mim

espelhado no diamante do céu quando cai a noite sozinha.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

diferentemente

liberdade
te quero
na palma
no ar
no ser estar
partir
chegar
regressar
entre ser e não ser
porvir
o que for
agora
aqui
contigo
ou sem
como sempre
mas diferentemente
de tudo.

- abro o portão,
lambe-me o cão,
como se não fosse a primeira nem a última vez.

o eu romântico

gostei
me apeguei
conquistei
o que eu quis
por muito tempo
sob chuvas
sob sóis
paixão pura
quase putaria
se não fosse
delicado
por tão romântico.

sem título

quem dera fosse
dor e champanhe
apenas
sentir
sem borbulhas
sem bolhas
sem nem

gélida
dor
televisor
telefones tocando
soando
solitários
forma estranha

do texto
estranha fonética
estranha imagética
rima pela rima
nada justifica
o que já esqueci.

terça-feira, 19 de abril de 2011

sem ponto de órbita

vontade de quebrar pratos
o pulsar
no ar está
materializar
a forma
desmaterializando-na
o que importa
além de minha vontade de
quebrar pratos
não ir
desaparecer
desapegar
ir para nunca mais voltar
dar voltas ao mundo
sem ponto de órbita.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

estelar

encontrei meu amor
meu amor nem me olhou
meu amor usa adereços rosas
de cor cintilante

rosa contra olhos pretos

profundos

impenetráveis

enigmas

no dia

em que o móbile do céu
desenhou seu rosto
no coração
meu
desconexo assim
só posso escrever
por entrelinhas
estelares:

espaço sideral do meu amor.

domingo, 17 de abril de 2011

fernanda

meu boto
meu broto
meu giotto
não te encontro
se não em teclas
ouço através de paredes
densas
materiais
tais como teu signo
tais como terra
onde estás
fincada
amarrotada
amada
amalgamada
em mim
por mim
no meu devir
entre ser e não ser
entre um gole
e outro
garganta
pronuncía
teu nome.

terça-feira, 22 de março de 2011

carlos

carlos nós também vamos morrer

um dia
um dia

agora. quem diria?

carlos nós vamos viver eternamente

no cerne fossilizado

desmaterializado

alma.

carlos não me olhe com esses olhos tão tristes.

é pena eu não poder dizer o porque desse texto

desmaterial.

eu também perderei isto

onde puder

vir

ver

ao que der e vier

sempre.

absoluto silêncio

fóssil do ócio
fóssil do ócio
fóssil do ócio
não mais tenho.
fóssil de mim
e do mundo inteiro.
japão derrete,
quanto a líbia não leio jornais,
quanto ao barack quanto menos,
mais.
nasça brasileiro antes de falar do brasil.
eterna escravidão
samba no pé
eu gosto muito
eu não gosto nada.
texto esdrúxulo.
estou triste com o mundo.
homem perdeu o silêncio; seu deus;
e o carinho por tudo.
carinho rima com passarinho.
cantar-te-ei com palavras
invisíveis aos olhos de quem não ama;
ou seja: silêncio.
silêncio absoluto,
eu queria amar o mundo,
eu poderia tomar arsênico,
eu amo tanto o mundo que sou triste;
eu sou tão triste que sou feliz;
feliz por tão triste;
esquecer é o melhor a se fazer.
esquecer da mente;
no cerne,
no ventre,
do absolutamente,
nada.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

coração cangaçeiro

cadê teu carinho sincero
sem teor de bolero
de coração cangaçeiro
retirante de pau de arara
saudade dos hífens
eles também se foram
em vila mariana está
minha Kesi do Gantois
lurdinha
textinho
the end.

bezote
peyote
mescalinóte
saudadote
estou no caixote
dormindinho
esperandinho
texto neurótiquinho
ainda estás no mercadinho?
não tenho mais carinho
telefona.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

onde estiver

garoa
canoa
boa noite
onde estiver
na cidade
ou no ar
triste estar
estou
é festa no outro apartamento
alento pra ninguém
mas são bonitas as luzes
vêm pros meus olhos
silêncio das gotas
das chuvas não
das lágrimas
onde estiver
na cidade
ou no ar
triste estar
eu prometo melhorar.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

charles

charles
olhos
de terra
sempre
de sempre
bonzinho
com muito carinho
isso não é um poema
é uma canção
sem métrica
nem rima
nem léxica
nem som.
é réplica
de carinho apenas
talvez para que eu não esqueça
embora jamais esqueceria.

posto Veneza

beijo
no vagão
da noite
no clarão
dos postes
e automóveis
seu rosto
entremeado
por sombras
de construção
histórica
contra luz
artificial
pelo tal
não houve lua
mas houve
o beijo
afirmando
desejo
corre no vagão
da noite
na escuridão
claridão
de seu olhar não
esquecerei.

domingo, 23 de janeiro de 2011

impublicável

eu só sei esperar
eu só sou só
eu só sou só e só
eu só sou só e sem mais
há coisas impublicáveis
que se deve publicar
publicar o que for
escrevo isto
enquanto digo
casualidades
e algo me chamou.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

noite de hotel

chove tanto
enquanto
você no jantar
eu no hotel
tédio eterno
escrever sobre nada
e pra ninguém
eternamente
estranhamente
triste
estou no quarto 1004
chamada só da recepção
a televisão está ligada
pra nada
jornais sobre o chão
- outra cidade -
céu que não abraça
nem comove.

domingo, 16 de janeiro de 2011

nova ordem

escuridão das teclas
clareiam
ponteiros dos imaginários
porquanto
é claro escuro
embora não seja
pintada por caravaggio
lua dourada se pôs contra
nuvens chumbo
isto é maior do que a idéia
escrevo pra rasgar a madrugada
insone
não medito
procuro
encontro em termos literários
não acho em termos formais
nem tampouco espirituais
posto que tenha sido
um mau dia
para onde vou?
para onde vou?
nem mais escrevo
porque morte em palavra
e libertação
inapropriadas são
à nova ordem.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

escrever

escrever
é apenas ceder
coração
alma
mão
olhos
chuva
esqueci
escrever
sobre nada
é apenas ceder
coração
alma
mão
olhos
chuva
esqueci
escrever
sobre a quê
é apenas ceder
e mais.

sábado, 8 de janeiro de 2011

para não esquecer

eu lhe dei amor
e você me deu o nada.
eu ainda estou
com seu cheiro.
o que eu faço agora?
nada
a não ser seguir,
escrever para não esquecer,
pra gravar,
mesmo que rememorar
esteja nos olhos;
ire pergeret,
sempre lembrarei,
sem saudosismo,
e com pura alegria.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

deus da chuva

cigarra não canta;
grita.
cigarra grita no ar;
no ar te perdi.
perdi o que nunca tive;
você e o ar da noite.
da cigarra só se tem o grito;
nunca é visto seu corpo físico.
seu corpo físico
é o canto do grito.
chove muito.
isto eu pedi para o deus da chuva.
deus da chuva.
gotas irrompem o que pontos calam.
gotas irrompem mais que palavras.
o grito da cigarra é o poema.
não a cigarra em si.
cigarra é o objeto
do poema que não é poema.
da cigarra não se vê
um palmo
do que seja corpo.
o corpo do poema não é a cigarra,
e sim o grito.
a chuva não é em si o poema.
o poema que não é poema
é o que se traz na chuva;
você desmaterializado.