sexta-feira, 25 de junho de 2010

não ter asas

coração dói
de dor física
não das de dor romântica
neblina
lua já foi engolida
lá fora é mato
e concessionárias
de automóveis
embora eu quisesse
concessionárias
de sonho,
ou mesmo ter asas.

sim monroe

monroe era louca,
pelos olhos,
pela alma,
marilyn era louca no maior
e no maior do mais triste
dos sentidos:
o de uma pessoa vazia
nos olhos mas linda
de alma
de música para camaleões
não lembro
do transgressor
do escritor
que vos
pintou
marilyn monroe
em palavras
além do
que a fotografou
na flacidez
e no fascínio americano
de uma beleza impressa
para a de ser feita
para o às de páginas
midiáticas
porque estes versos assim se dividem
saudade
escrevo no texas
escrevo sobre marilyn
a partir
desta fotografia
maior do que mídia
qualquer lixo
que for
maior do que o meu amor
que é por monroe
em foto
monroe
monroe
eu não sei nada sobre você
nestes olhos
na pintura dos lábios
nas sobrancelhas do signo de
aquário
de ar
de que signo era feita
monroe
além de o qual
pouco aqui lhe dou.

terça-feira, 22 de junho de 2010

alexandre

se alexandre era bonito
ele foi o maior imperador do mundo
o maior rei
algo que o valha
embora os egípcios
tivessem toda a raça negra
dentro dos olhos
mas alexandre era de bronze
segundo uma canção qualquer
moderna
excitante
se alexandre fora bonito
com mãe meretriz e pai rei
ele há de ter sido
o maior.

na névoa dos olhos

tinha muitos poemas
na névoa dos olhos
eu te amo
eu perdi esses poemas
e eu reciclei esses poemas
na névoa dos olhos
repito
e não morro
mentira
morro sim
em cima do morro
no barracão
eu te amo.

a palavra órla

o céu lilás
não comove
não dói
não deve ter mais dor
antes paz
do que palavra
que venha em dor
angariada
com mãos sujas
de pó químico.

o dia nasce
manhã pura
água
dê-me tua mão
areia da mais pura
mar ao contraste
dos olhos
do sexo
que é o mar
da órla
da órla
essa palavra tem o poder
de me excitar
e me levar
para onde for,
para o mar,
o que seja.

amamos seria romano?

passarinho marrom e azul
de veludo
leia-se aveludado
é tímido
segundo seu telefonema
que eu lembro
faz cerca de um ano
objeto de angústia
lembrar do telefonema de quem amamos.
amamos seria romano
pelo tal.

objeto de angústia

o abajur faz de si
o que for
o que seja
quando apenas
é pura bruma
seja meia-luz
esta
e só
é só
é tanta
tanto
átomo
de luz
conjugado comigo
e com o mundo inteiro
através de teclas
plásticas,
objeto de angústia.
objeto de amor:
deus e a natureza.

domingo, 6 de junho de 2010

justificativa

atirei versos pela janela
atirei versos pela madrugada
escrever sobre absolutamente nada
é meu ofício,
justifica simbólicamente,
e faz com que eu me sinta útil
de maneira sobre-humana.

escudo

este escudo não me cabe
em dor não se deve escrever
e eu só queria mar, também
ou palavra só pra que me leve à órla
à onda
da vida
ao que não seja essa dor angariada
desnecessáriamente,
é noite.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

órla de ti

eu queria estar
na sua sala
com os abajures
em sua bruma
meia-luz
frente ao mar
na órla
na órla do teu sexo
entre as vidraças do edifício
entre a rua três mil e setecentos
na órla
na atlântica
na janela
onde mar engole
até os olhos
os olhos
de mármore
recôncavo
palavra recôncava
e eu deliro
e eu te amo
do mármore verde do chão
ao mármore dos teus olhos avelã.

embora verseje

o ponteiro
é inimigo da perfeição
do poema
é inimigo do silêncio
da madrugada
antes que nasça
o dia
antes que a manhã
substitua a letra
o verso
pelo sol em luz
em aurora
sou eu incapaz
de armar
um verso bonito
se contra o ponteiro
que corre
contra a inspiração,
o vazio
o tempo
o nada
o infinito ócio de que preciso
para armar um bom verso
que justifique meu dia
e eu não posso me revelar
de modo que o mistério
do poema que não é poema
sucumba na terra
embora ainda verseje.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

liz no peito

liz no peito
sua voz
está quase feito
albatroz
rima pela rima
madrugada
há certa preocupação
não dá para escrever
hoje podou-se uma flor
que eu vi
hoje eu defendi uma abelha
pelos olhos
hoje eu não tive febre
hoje fez frio
corpus christi
dia branco
eu não sou cristão
eu estou a deus
como uma pomba está
amanhã é dia
volto pra hoje
em lembrança
divagar
na letra
no ar
na asa
na andorinha que não há
faz frio
inverno
nos olhos
nos verdes olhos escuros
de cor de musgo e de avelã.