domingo, 23 de janeiro de 2011

impublicável

eu só sei esperar
eu só sou só
eu só sou só e só
eu só sou só e sem mais
há coisas impublicáveis
que se deve publicar
publicar o que for
escrevo isto
enquanto digo
casualidades
e algo me chamou.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

noite de hotel

chove tanto
enquanto
você no jantar
eu no hotel
tédio eterno
escrever sobre nada
e pra ninguém
eternamente
estranhamente
triste
estou no quarto 1004
chamada só da recepção
a televisão está ligada
pra nada
jornais sobre o chão
- outra cidade -
céu que não abraça
nem comove.

domingo, 16 de janeiro de 2011

nova ordem

escuridão das teclas
clareiam
ponteiros dos imaginários
porquanto
é claro escuro
embora não seja
pintada por caravaggio
lua dourada se pôs contra
nuvens chumbo
isto é maior do que a idéia
escrevo pra rasgar a madrugada
insone
não medito
procuro
encontro em termos literários
não acho em termos formais
nem tampouco espirituais
posto que tenha sido
um mau dia
para onde vou?
para onde vou?
nem mais escrevo
porque morte em palavra
e libertação
inapropriadas são
à nova ordem.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

escrever

escrever
é apenas ceder
coração
alma
mão
olhos
chuva
esqueci
escrever
sobre nada
é apenas ceder
coração
alma
mão
olhos
chuva
esqueci
escrever
sobre a quê
é apenas ceder
e mais.

sábado, 8 de janeiro de 2011

para não esquecer

eu lhe dei amor
e você me deu o nada.
eu ainda estou
com seu cheiro.
o que eu faço agora?
nada
a não ser seguir,
escrever para não esquecer,
pra gravar,
mesmo que rememorar
esteja nos olhos;
ire pergeret,
sempre lembrarei,
sem saudosismo,
e com pura alegria.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

deus da chuva

cigarra não canta;
grita.
cigarra grita no ar;
no ar te perdi.
perdi o que nunca tive;
você e o ar da noite.
da cigarra só se tem o grito;
nunca é visto seu corpo físico.
seu corpo físico
é o canto do grito.
chove muito.
isto eu pedi para o deus da chuva.
deus da chuva.
gotas irrompem o que pontos calam.
gotas irrompem mais que palavras.
o grito da cigarra é o poema.
não a cigarra em si.
cigarra é o objeto
do poema que não é poema.
da cigarra não se vê
um palmo
do que seja corpo.
o corpo do poema não é a cigarra,
e sim o grito.
a chuva não é em si o poema.
o poema que não é poema
é o que se traz na chuva;
você desmaterializado.