quinta-feira, 24 de abril de 2008

ao sair

tuas pinturas vazias
na galeria vazia
conversaram comigo:
éramos recíprocos,
eu e as telas ,
de pano e madeira,
inanimados.
eu não suporto mais
esmolar pelo teu olhar.
mas suas telas,
elas me olharam,
e imediatamente
entendi tudo
sobre ti,
e o reconheci,
e me apaixonei outra vez
alí, sozinho
sem absolutamente
nada.
corri para fora imediatamente,
para que não se destruísse em cacos
a paz que eu havia construído
até então.
e foi aí,
quando ao sair
que uma forca que da qual não sei qual seja
deu-me um céu
recoberto de flores e estrelas.

domingo, 6 de abril de 2008

quebrar-se

alguma coisa quer quebrar-se quando algo se quebra
e eu espatifei um cristal ao chão.
quis despistar os cacos,
mas o pó de vidro deixou os rastros 
de alguma coisa que queria quebrar-se
quando o cristal se quebrou.

no meio fio

domingo 
eu destruído  
amando  
feliz morrendo  
céu com suas nuvens chumbo 
veio arrebentar em mim  
oh, a literatura a partir de mim  
meus nervos em pedaços  
a noite acabou de cair  
e quando ela cai  
me afoga este domingo  
em que estou destruído  
amando feliz morrendo  
näo me telefone que eu posso chorar na linha  
no meio fio  
eu estou bem  
eu nunca estive täo bem 
eu nada  
eu não poderia acabar aqui  
mas não há sequer uma estrela  
e me perdi.

tu

tu derretendo pra ela
tu tens que aprender a ser homem
tu gostastes de um poema monocromático
tu com eu eu falo através desse teclado
tu de quem amo
tu vênusiana
tu hoje o céu é de domingo
tu hoje o céu nao me pediu absolutamente nada
mas me deixaste aqui sozinho.


simone

Chorou por tudo mas com o pretexto
de que perder a carteira foi a gota da agua:

que merda viver nesse turbilhão
Simone diz.
quando voce acha que está tudo bem, tudo cai por água abaixo
voce ouve o que não quer, diz o que não quer.
fazia tempo que não chorava tanto,
acordei com a cara do rocky balboa depois do último soco
e estou ouvindo uma musica que diz que as coisas nao tem paz.
perdi uma parte minha ontem,
perdi.

E é aí que eu digo que te amo, Simone.

terça-feira, 1 de abril de 2008

lua cheia

minha boca
em sua língua
já a previa
em sua coisa concentrada
no ar, no vento,
já a previa numa poesia
que nao fosse quase nada
através de sua circunferência clara,
previa que eu pudesse me perder
em palavras coloridas,
e em seu beijo sem cor.

eu nao sei qual seja a cor
tampouco o gosto do seu beijo,
entrepouco o desvelei em seu reverso.

"remorso"

para onde
seus olhos profundos
de azul-mar
estarão a olhar?

seus olhos ancestrais
seus olhos infantis
tristes olhos
de mar sem fim.

só para mim,
longe de mim.

no entanto
eu os feri em seu amor,
e em sua clareza,
através de minha maldade
que nao posso transcrevê-la.

eu os feri
e ao invés destes olhos
me restou o remorso.