quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

aeronave

uma aeronave corta
o céu límpido
de azul límpido
escuro
cai a noite
cigarra canta
o que minha garganta
dolorida não canta
estou bem silencioso
você não respondeu
minha carta de amor
mas sem rancor
eu vou lhe amar
lhe esquecendo
mas isto não é um poema de amor
e sim um poema romântico
sobre o céu e a aeronave
soberanos a nós
a mim
romântico
românticos
não amam no fim
não era o que voce se
me havia dito uma vez?
talvez você não lembre
com sua desmemória
seletiva
cigarra zune
no ouvido
marimbondos
estáticos no ninho
este tom da cigarra
fere
embora o calor o equivalha
à navalha de seu timbre
de seu timbre rouco
agudo
duplo
tem outra que canta
agorinha mesmo
neste dueto
que é para não me deixar só
mas acaba por me irritar
minha garganta também
áspera não canta
áspera nao de tristeza
só de dor física
divago sobre isto
apenas para que não se diga
o som maior
o tom maior
de ser um recomeço
agorinha mesmo
embora caia a noite,
posto que eu haja terminado um ciclo
não já sem pequena nesga
de saudade
que rasga pequena
esta é a dorzinha
mas afora isto
a seretonina
transfere-na
para outro
lugar
que ainda não sei qual seja.

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