quarta-feira, 11 de junho de 2008

promessa

a noite caiu
em seu rebaixamento tonal
habitual
exato,
embora imperceptível
embora as luzes da cidade
não sejam de modo algum
imperceptíveis,
contra o breu dessa casa,
mas tem paz.
tem a promessa que este silencio concedeu
de meditar
ao vazio
contrário ao caos
da construcão deste texto,
provindo do caos de minha necessidade
de compreendê-lo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

porvir


telas pedras plantas
constituem parte dessa casa
sempre nessa madrugada,
que é quando as escrevo.
troco a paz sem fim de meu sono
pelo caos das palavras
mas já näo me destruo por coisas vagas,
amores mortais por absolutamente nada.
já näo me destruo...
com esmero tento compreender
que estas poesias de amor
foram feitas pra ninguém.
embora, sem esforço algum para que se entenda,
isto seja täo triste...
näo há ninguém, talvez nunca tenha havido
absolutamente ninguém nem nada tangível
para que justificasse (se isto é mesmo possível)
o sentir da proximidade da morte
destes textos por mim escritos.
por que beirar a morte figurada
se camuflada através dos enigmas
de uma linguagem täo pobre?
nada justifica este nada.
mas há uma certeza absoluta,
que agora luta contra a rapidez
das horas que este relógio digital engendra,
há esta certeza absoluta
de que o beco sem saída
ao qual me levam estas palavras sem sentido
produzidas por uma falta de sentido maior
e täo mais obscura de mim,
dissiparía-se em tom suave
que eu näo saberei decifrar-lhe,
mas que näo é mesmo necessário,
amanhä sob a luz de um sol suave,
sobre minhas mäos, rosto, corpo inteiro,
suave, suave,
por entre plantas, flores, talvez mares
alegria súbita agora
deste devir que portanto e para tanto crio,
"por um porvir mais generoso"
e os olhos semicerram-se de alegria
e me canso, entregando-me à paz
do sono.










sábado, 7 de junho de 2008

sem sangue

estou tão vazio
de não te encontrar
que não mais escrevo.
o carteiro
atravessou agora
uma carta
pela fresta da porta.
minha letra destroçada
não constrói quase nada.
minha escrita,
tampouco.
a tinta úmida brilha
à noite, à lâmpada, à página
embora a lua se esconda
entre o tudo e o nada;
entre sozinho no apartamento,
ponha a garrafa de bebida sobre a mesa,
deixe-na intacta.
eu a rompi
agora.
o álcool está quente,
o quero amargo,
de gosto de ferro,
mas sem que se derrame
sequer uma gota de sangue
sobre este carpete podre,
encardido.
e friamente, analiso
seu corpo estendido
sobre ele.

mel não

mel
a escorrer
sobre meus lábios
é deus
em seu silencio,
em sua noite.

hoje
nessa igual noite
tenho que deixar-te
ir-me embora
de ti
para sempre.

mas
para sempre em mim,
no que aprendi
no que sofri
no que amei
no que morri.

nos símbolos
dos quais
aprendi a ler
e a designificar.

(o pretexto destas palavras
era o mel em meus lábios,
mas o fim, é sem você aqui,
em meu peito.)

peixes

não me deixe
me ama
no meu peixes
azul,
azul de infinitos tons,
negro
de ódio
de amor.
de-me calmante,
ou veneno fulminante,
para que acabe logo com isso,
eu sobre este leito,
sujeito que não o conheço.

de outrora

meus nervos em pedaços
a chuva nem comove
tampouco escorre
em seus mil significados
de outrora,
um para cada gota.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

manhã anterior

despertei
antes que o Sol
pudesse se pôr.
e meu coração
quando nada havia
para aquecê-lo
estava só então.
o céu cálido
sobre os edifícios adormecidos,
sobre os termômetros congelados,
meu coração a pulsar ainda
sobre frio mármore.
minha face ao espelho,
alva,
exatamente branca,
a refletir Narciso
embora em absoluto silêncio.
as flores poucas
haviam igualmente
despertado em silêncio,
disso eu sabia,
mas você não estava
comigo sobre o leito estrelado
sobre o leito azul-água,
a recostar-se sobre meu peito
em sua triste face
de os olhos também tristes
de azul-mar...
venha velar meu sono
antes que o grito metálico
dos automóveis
destrua o silêncio eterno
desta manhã anterior à tudo;
venha, antes que seja tarde demais.

fractais

céu lilás
saudades
tu dormes
ao longe
bem longe
de mim
e de meu corpo
frio.
a área de servico
também fria
está tão vazia
de qualquer presenca...
a vida secreta das plantas
neste absoluto silencio
me congela.
os fractais da janela
recortam a madrugada em mil
de modo que me perco no vazio
dos mil fractais
os quais
esquartejam a noite lilás
e os meus olhos negros.

nebuloso

poesia, volta
estou sem fôlego
desaprendi-te
a neblina
a neblina
engoliu-nos
e sem fumo
nao defumo
absolutamente nada.
a neblina roxa
engoliu a tudo.
daqui desta janela
a compreendo
no silêncio
absoluto
do edifìcio
completamente
vazio.
eu aqui
eu só.
madrugada
rosa congelou
janela entreabriu
geada em meu peito
eu te amo
eu te amo.