domingo, 24 de julho de 2011

fuga

pássaros fazem
póstuma homenagem
em figura de linguagem
em pio
em nuvens chumbo com fio
de luz
que pego no ar
nao deixo que se vá
mas se esvai
foge

quinta-feira, 21 de julho de 2011

promessa

eu deixei umas lágrimas alí

sobre a fronha

prometo te deixar

nada é tão simples

pensar é a dor primordial

o pensamento

quão mais escrever.

domingo, 17 de julho de 2011

john

guitarras soam
estalam
no espaço
guitarras suas
tão elétricas
quanto a voz

voltaste

voltaste

em som

em partícula

etérea

e imaterial.

sonora

padrões de decibéis de sua voz

chegaram aos ouvidos

em sonho

ondas sonoras televisivas

cortaram isto

em som

familiar

embora

irreconhecível

som fúnebre este

em algum lugar

contra piar de pássaros

bem longe.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

elo

não chore

meu amor

não chore

a ilha te abarca

as montanhas

o vale

a rua

a poça da chuva

ou até mesmo

a lagoa

do Peri

pode chorar

por ti

abarcada nas águas

de uma vida inteira

e das lembranças

de nós

pois então

não chore

porque a lua cheia

nascerá em instantes

e brilhará pela noite

num elo divino.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

bons sonhos

bons sonhos

plumas de sonhos

mais leve que a palavra

te proponho isso

em pensamento

para que adormeça

na suavidade

do deus do sono

que ao seu lado

te guarda

sob lençois

paz

brancura

renascer para um novo dia

para um novo amanhecer.

nota breve

o mergulho é azul

eu sou azul-negro

o orgulho és tu

e teu signo, vermelho.

vocal silencioso

mas eu ouvi
um timbre
de voz
uma palavra
bateu atroz
em mim
por nós
apenas
nós de velas
tateio algo
de expressivo
e vazio
no ar
texturizado
palavra também
eu me perdi
agora.

paz escura

a casa
nada fala.

coisa alguma
fala por ti.

nada.

não espero.

noite vai caindo.

vou caindo no vazio
do silêncio.

solitudinal.

pacífico.

sinal

um sinal seu quando a noite cai
quando o céu se faz dourado
e se poe lilás.
ao menos um sinal seu,
ainda que breve
e fugáz;
tanto faz.
esperaria mais e mais
mas me tiraste da paz
do tédio.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

anotação de cunho obsessivo

o meu amor
o meu amor que eu encontrei hoje
licença romântica
o meu amor que eu hoje encontrei
e o admirei por uma eternidade toda
por quinhentas vidas
obsessivamente
mas suavemente
ao longe
platônico
mas verdadeiro em mim
aqui
sempre
desde sempre
tudo tudo tudo tudo.

escuridão

esta lua
designa solidão eterna
saudade recipiente
gigante
preenchida
esvaziada
lágrima vem
pois você não vem
lua minha designa
solidão
eterna
e desde que vim ao mundo
me deixaste
sei o que designa
luar sob Saturno
a melancolia eterna
mas nunca hei de me acostumar
os ladrilhos aqui estão todos sozinhos
e escuros
e você não está.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

tatear por

insone
não medito
procuro
algo do porvir
telefone está mudo
não preciso
portanto
estar
insone
ao mundo
e, não meditando
agora
quando atesta-se madrugada
pelo suor das vidraças
procuro
tateio
por cobertores apenas
não enquanto linguagem poética
em figura
mas como sujeito comum
dentro do silêncio ocidental
por onde a madrugada, pelo tal
se pronuncia.

algures

escrever
aprofundar-se
nos olhos da alma
na escuridão do silêncio
leia-se brilho luminoso
puríssimo
e amar
dependendo apenas de
despender
libertar
fazer
de a mais pura limpidez
o cais
onde um quarto crescente se faz
algures.

schwanenfedern

a alegria
se anuncia
a qualquer hora do dia
até mesmo quando nenhum pássaro pia
ou ainda pôs-se a cantar.
asas de candura e liberdade
anunciando em silêncio
a passagem do pássaro pelo átomo do ar,
mas este não sabe que o faz;
nem tanto ao pássaro
nem tanto ao céu.
amplo e solitudinal ato
inconcebível a ele,
razante na força,
na pureza,
e ainda assim lírico.

domingo, 3 de julho de 2011

sem poema

aquário;
minha cidade

aquário de montanhas

sol sob o signo de peixes

luz sob o signo de o que seja

chove tanto

porquanto

quase morro afogado

sexta-feira, 1 de julho de 2011

insônia mediterrânea

dionisiaca
insonia
saudade das vidas passadas
saudade do mediterrâneo
saudade de Xenofonte
divagar
sinto-me preso sob teu olhar
teu olhar meu
me sinto livre sob teu olhar meu teu
planejo matar quem te faz mal
quebrar pratos de amor
isto não deixa de ser
morte
grega morte
grécia não passa por trânsito astrológico propício
à ruína desta civilização
divagar
eterno é o mar
insonia mediterrânea
vinho literal atravessa a garganta.

matinal ainda noite

é bem tarde
chuva nos corações a saudade
molha as putas rameiras à beira da ramagem
guitarras
e metal sob travesseiros suaves
plumagens
sonhos
a palavra é simples
mas a vida
atenciosa e verdadeira,
é bem tarde,
leia-se quatro da ramagem
da matinal ainda noite saudade.