quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quem me impede

o isqueiro parece ter se camuflado
junto do aparelho telefônico,
de grande utilidade
para a saudade,
esta de utilidade questionável.
e a voz me faz verter
outras coisas além,
o que for,
pois o isqueiro tinha se camuflado
para que eu não fumasse meu cigarro,
e embora eu o tenha achado
negro sobre o negro do aparelho telefônico,
eu não fumo sobre a noite negra
se este me impede.

em qualquer palavra

tenho do menino alí
sua beleza toda em mim
a transferi sem rouba-la
por apenas fitá-la
num átomo de amor
que peguei do ar
no ar
nas poesias inumeras que perdi
alí
por tentar guardar você
em qualquer palavra que for,
que fosse.

haja poema

ao parar
debruçar-me eu
ao parapeito da janela
só vem a umidade viva
depois de horas de chuva
ininterrupta
umidade viva esta
que é no entanto
minha única amiga,
embora me deixe com frio,
esvaziado,
embora isto seja a vodka,
acho,
acredito,
e acredito que você
haja esquecido.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

desumano

eu sobre a aura da tela
da palavra, da tinta
faço de mim
só ouvidos
um oásis
pra tua melancolia longe
na voz metálica
do pedal do telefone
ao pé do meu ouvido
e meu ouvir é atencioso
ao canto ininteligivel
que entremeia palavra
lusitana no som
e o mar é pra ti
como não é pra mim
e mesmo assim
você me mata por fim
através do telefonema
me deixando com
mão ódio faca
e alma esvaziada
por tua desumanidade
de me tirar da cama
num telefonema
na madrugada
que morre.
mesmo que não morra,
morre aqui.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

crianças brincam

crianças brincam sobre gramado sem fim
crianças brincam sem fim sobre gramado infinito
crianças voam sem fim sobre gramado infinito
que vai dar num horizonte que não termina jamais
nunca mais mas sempre
crianças atemporais
crianças arquétipos de anjos
anjos sem asas
(de muito eu duvidaria)
mas
os amo os amo os amo
sem dúvida
sem dúvida
não tenho mais o prazer
do presente soberano
ao passado ao futuro
ao relembrar querer voltar desejar
fui serei
não sei quem sou agora em meio a isto aqui,
mas elas, pelo tal eternas,
sabem sem que saibam.

figurativamente

sob som melancolico
samba triste
rock triste
triste eu
triste que não te conheço
cantor
que eu conheço tanto
que eu gosto e só
basta sermos sós?
sós nós dois no mundo
só nós dois no mundo sonho
enquanto escuto som
metálico
metálico melancólico
te espero aqui
sob espelhos quebrados
meus joelhos dobram-se a ti
figurativamente.

oásis

neste lugar
poesia
oásis feito de palavras
mas nao apenas
sentimentos também
nao tem tempo mais
para a coerencia
e eu me deito contigo
sob lençóis de amor
metafísicos
oasis oasis
e nada mais na pedra
na pedra filipeta apagou-se
de leite de poema
derramado
sem pudor, sem sangue
da dor, poema
parir da dor isto
isto, amo-te, é noite
e nada mais interessa
a mim transcrever aqui, se não
lua crescente derrama fios
crescentes
azuis
luminosos
metálicos
cristalinos
transparentes
embora os olhe
os sinta, sobretudo sentir
mais que ver, poesia
raios de lua
sobre mim
sobre a cama branca
branca branca branca
ainda não morri
não tem ninguém ao lado meu
no lado da cama que é seu
abajur ligado
ilumina vidros contra mar
de meu coração
conexão não
razão não
emocão
que ninguém precisa ler nem enteder
nem lhufas de nada que me cansei
e destas ondas palavras
surgiram muitos poemas que me confundem e eu preciso ir embora.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

romântico

Nós somos gregos e troianos
Contrapostos
Sob mesmo véu de céu
De não vermos como é
Algo do qual não sei explicar
Romântico
Eu maior do que as palavras
As quais falam de si mesmas
Mas jamais calam de ti
Em seu devir
De que um dia vou saber.

cerne

a noite cai nua
em sua transparência
de límpido cristal
as palavra se vão
eu lírico não eu
portanto
conquanto durmo
em leve sono
adormecer
encontrar teu espírito
irremediávelmente
e suspender-me
da carne
da palavra
do cerne da coisa.

terça-feira, 14 de abril de 2009

ondas

chuva de bruma de lágrima
de ontem de noite
de passado relembrado aqui
neste dia de sol a pino
sobre seca restinga
areia sob pés
meus
ondas
profusões
de brancos
quais translucidos
sob o sol a pino
sobre o sal do mar e do chão
brilham.

quarta-feira, 11 de março de 2009

no seio de meu peito

lua cheia
lua gema
céu em seu fim
Shakespeare
num fragmento
de imagem
para mim

meus olhos
sao barcos marejados;
medito à lua
afora os sentidos
nexos, colapsos
coisa atemporal
em cada lágrima
que nao tem

porque tem que eu estou em paz
e você não existe aqui

a nao ser aqui
no seio de meu peito.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

o que restou

contigo foi platônico
e de amor romântico

no apartamento vazio
mas cheio de sonhos

e ecos de nossas vozes
sombras de vossas asas

de amor
voar

chorei quando voltei ao hall
o Monet ainda me era igual

mais triste, quem viu?
em sua lagoa azulada e suas flores anil

e o que restou de nossos móveis,
sonhos e fotografias.

sem significado

a perdi
com palavras
brancas

o vislumbre
de meus versos
se partiu

naufragou
lentamente
caiu

em nada

na tarde
coexistir
na memória

no ar

um pássaro pra ti
onde nos olhos me perdi

à promessa de um porvir
sem sangue

mas sem o mel de outrora
o amor

anterior
a estes fractais nebulosos
e sem cor

e sem
significado
algum.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

jardim

carta molhada de chuva tua

lançada à grama orvalhada

bruma de lágrimas minhas

rosa de um jardim teu.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

nada

mel
não é mais minha

qualquer coisa que não seja
não vale de nada

nem a música que
surra os ouvidos
cansados do transito
que corre atrás de nada
se não é de voce
nem de mim que sem ti
já não sou
nada;

escrevo
por escrever
coisa em si
e nada mais
pois
não te-la aqui
só me traz
horas infindáveis.

"Quando, no leito, me vem vossa lembrança,
passo a noite toda pensando em vós.
Porque vós sois o meu apoio, exulto de alegria,
à sombra das vossas asas."

domingo, 1 de fevereiro de 2009

enigma

'almost blue'
Pierre meu
ao mar azul

quantos de nós
semi deuses
azuis
a quantos pés
ancorados
e sem luz?

mémoria escura
fundo do mar
navegar é preciso

viver
não o é.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

triste

Telefonar-te-ei eu?
que estou com medo
deste domingo tao frio em seu céu
queimava ainda o sol se foi
flor das cores da cidade
de onde retornei sem mim

uma criança de rua triste
me deixou triste assim

e a estrada se apagou pra mim
e eu não alcanço mais a ti.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

prisma

morreu
mas brotou lágrima
sob o sol tornou-se prisma
sobre o parapeito espatifou-se
qual o horizonte
ao cair da noite.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

a noite em que tu me atiraste aos porcos

quando, num acaso
(o que de maneira alguma seria acaso)
nós nos reencontrar-mos
eu espero que tu não consigas
resistir aos meus olhos
mais negros do que a noite
onde escrevo
onde sou só
por entre fragmentos de sonhos
que se vem acender quando os
olhos semicerram-se exaustos.

fizeste-me derramar lágrimas em vão
esvaíram-se caíram então
eu a deixar
lágrimas sobre teclas
de uma cor prateada totalmente inorgânica
como seu amor artifício por mim
inventado a partir de ti
no devir de minha beleza
de minha cara feia
não mais consigo escrever palavras suspensas
quais juntas
revelam tanto de mim
do mundo
da noite em que tu atiraste um diamante aos porcos,
da noite em que tu me atiraste a eles.

lágrimas encharcam teclas

a vida
é um desencontro
fodido

você
não me quer
mais

meu deus
porque escrever
isto?

-para morrer só
num dilúvio de
amor-

diz uma voz
de madrugada
de anos luz

não mais vou esmolar
eu sempre te
quis

lágrimas
encharcam
teclas

nao diz mais,
vai,
tem eras ainda

onde, em algum
remoto
amanhã

você me queria
você disse que sim
foi-se voce

e eu traduzindo em palavras,
eu te amo.

domingo, 11 de janeiro de 2009

esmolar amor

esmolar amor
sob a lua cheia
amor onde estás
cansar das teclas
queimar
incinerá-las
não enxergo as teclas
as letras correspondentes
nem mesmo com estas
lentes de grau
nem tampouco sob a luz azul
a escorrer sobre a noite só

amor onde estás
lua cheia não me deu nada
além de tudo o que de beleza
nela havia
a esmolar amor a todavia
eu estou aqui.

sábado, 10 de janeiro de 2009

através de brumas

o cair da noite
traz o devir de tua ausência
lembrança de presença
catarse triste

dor no peito esta
não há um fio de luz na casa
e as ondas do mar quebram-se por si sós
independem de nós
através de brumas e espumas e ausências.

longo segundo

o depois do depois
do segundo
vivo

ao mar queimar
ao sol do
amor

compreendê-lo
segundo de longo tempo
embora

embora mar
e queimar ao sol do amor
seu.

Osho

Osho sobre a mesa
você onde está?
as palavras e os poemas também se foram
derramaram-se por entre os dedos
entre brumas de ondas mais brancas
do que meu amor por ti
mais brancas que a transparência das minhas lágrimas
salgadas pelas águas deste mar sem fim
de devoção e de cafonisse romântica.

o perdi

parece-me que o vinho
é o sangue das madugadas

as cigarras destroem seu silêncio
com diamante etéreo:

o canto

eu vislumbrei um verso que esqueci
o texto se acabará por aqui
minguará em si,
o perdi:

escorreu pelas mãos.