domingo, 25 de abril de 2010

drama e dilúvio

dilúvio
pés na poça
profunda
do sonho
e depois do sonho
trovões
dilúvio
saudade e ódio
de ti que me deixa
lágrima a lágrima
a refletir
teu semblante triste
triste drama
drama este que não passa
de pura realidade
dura no coração
petrificada
abandonada, revivída
sempre
vívida e amarrotada
infância
cidade Saudade
onde nasceu
e eu, e eu
eu sou industrial
e alemão
e esqueci-me do intuito
desta anotação
de neurose,
que não tem arte,
nem nada que a equivalha,
além da triste navalha,
e de algumas rimas.

delírio

parar de escrever
não
não há outra saída
senão
parar de escrever
antes de ofuscar
a límpida linguagem
a límpida linguagem empobrecida
-meu poema-
paro de escrevê-lo
antes de empobrecê-lo
com tristes fatos
tristes fatos
repetitivos
eu sou repetitivo
-renanzinho
rema tão bonito
tão suave
boca repousa
sob olhos vivos
quietos e profundos
do signo de escorpião-
e a chuva e o trovão
me acordarão
em plena madrugada
-isto ainda é sonho-
não;
isto é mero devaneio,
muito embora para que o poema
seja como veio,
em seu primordial
talvez grego
talvez egito, talvez segredo
talvez primórdio primordial,
mas acima de tudo
luz puríssima,
eu não mais venha a escrevê-lo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

de saudade a delírio

noite madruga
noite mel onde
noite mal vem
noite sem estrelas
noite de fome
de tudo
de saudade a delírio
embora partam de um mesmo princípio
que sou eu e meus nervos
compulsivos
pelas repetições e palavras
e músculos
e fome
e fome que alimento não mata
nada mata esta fome
afora
noite de mil estrelas
e mares
e amor
e calor
pelos quais meu coração
e meu potencial dramático
choram por não ter
e por querer você
seja como for.

poema obsessivo

céu violeta
céu é meu único objeto de desejo
além do céu de seus olhos
que têm amor por mim.
escrevo pela insônia
por isto o triste texto
nem tão triste
nada triste
nada
nada
nada
morrer na repetição
não sei do que se trata
isto em meu coração
posto que não haja palavra
que haja apenas um grão
de solidão
que não me salva
nem me afoga.

descrição

céu alaranjado
fosforescente
pelo tal dourado
quase
quase não se deve descrevê-lo
posto que se assim seja feito
o perco
por um triz
pelos dedos dos olhos
retinas
rimas, não precisa
não precisa de
adereço qualquer
além do que era céu
agora é só descrição
repetição
por não perdê-lo
embora este se tenha ido.

domingo, 11 de abril de 2010

mensagem instantânea

-nos seus seios.
mentira.
pensando em...
desistir de tudo.
-não.
-de fato, meio vazio e saudosista
inspirado mas com imensa preguiça
da responsabilidade de se pôr
a escrever tudo isto
num poema.

lógica

céu
há muito esquecido
há muito no tempo relativo
de uma semana
muito embora
tempo todo seja relativo
acho
acredito
acho que nao haja esquecido
no tempo
como eu
esqueçi do céu
embora vislumbre
ainda violeta que era
violeta-dourado
rosá chá e marfim
e verdes vislumbres
junto a azuis de cerúleo
cerúleo
palavra redonda
a qual para o poema
pretensão de poema
palavra poema
para também
lógica
lógica não.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

correlativamente

abril
abriu-se
em chuva
partiu
ao ter-se
na lua
partindo
sob
ruínas
de casas velhas
eu não compreendo
nem isto nem eras
nem tampouco lhufas
preguiça
de escrever
assim como de viver,
correlativamente falando,
acabando,
correlativamente,
com o que seria um poema,
ou mera anotação.