quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

deus da chuva

cigarra não canta;
grita.
cigarra grita no ar;
no ar te perdi.
perdi o que nunca tive;
você e o ar da noite.
da cigarra só se tem o grito;
nunca é visto seu corpo físico.
seu corpo físico
é o canto do grito.
chove muito.
isto eu pedi para o deus da chuva.
deus da chuva.
gotas irrompem o que pontos calam.
gotas irrompem mais que palavras.
o grito da cigarra é o poema.
não a cigarra em si.
cigarra é o objeto
do poema que não é poema.
da cigarra não se vê
um palmo
do que seja corpo.
o corpo do poema não é a cigarra,
e sim o grito.
a chuva não é em si o poema.
o poema que não é poema
é o que se traz na chuva;
você desmaterializado.

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